Fé que salva!
…pedir esmola à beira do caminho
O texto começa por descrever a situação do pobre cego, imerso na passividade. Está parado, dependente e insuficiente. Está à beira do caminho, e ali podia continuar, assistindo ao rumor da multidão que passa, não lhe interessando quaisquer sons, senão o das moedas a tilintar na escudela. Podemos reconhecer-nos neste cego, parado e pedinte, porque sabendo nós bem como é preciosa a visão, não é tão óbvio atinar que tenhamos falta dela. Podemos até conviver bem com a cegueira, ancorados à noite, ou à fixidez dos nossos critérios, vivendo a vida que nos sobra dos outros, dependentes do que o movimento dos outros nos dita, abrigados sob a capa de tantas escravidões. A visão traz-nos desafios; levantar-nos e atirar com a capa, exige coragem!
Jesus caminha, o cego está à beira do caminho. É cego, mas um sentido ele tem: “ouviu”. “Ouviu dizer”, talvez também tenha ouvido caminhar. E àquele homem, que ouve e lê o som dos passos de Jesus, deixam de bastar as esmolas da terra, o caminhar dos outros e o negrume da noite. Tudo começa com a escuta atenta. Se ouvimos o som dos passos de Jesus, pode acontecer que o nosso coração comece a bater em uníssono com o seu ritmo caminhante. Jesus é o divino viandante que convoca a nossa capacidade de locomoção. Ele é Aquele que questiona a nossa inércia. Ele é Aquele que traz a luz e alvoroça a noite. Ele é o único que tem a meta!
Um grito e um salto
A decisão do cego move-se entre atitudes controversas com as quais também nos podemos identificar. Ordenavam-lhe que se calasse. Controlam a agenda de Jesus, fazem a triagem sobre quem deve ou não “incomodar” Jesus e quando. Mas todo o ser humano deve ter espaço para um grito e um salto que chegue ao céu. Se Jesus é Aquele que caminha sempre e que responde a uma urgência, Ele nunca leva pressa. A urgência de Jesus é cada um de nós, porque é a urgência do amor, a única urgência da vontade do Pai: salvar-nos, convidar-nos a fazer caminho. Jesus gosta de ser incomodado. A melodia de uma caminhada deve ser embelezada com pausas e com o contraponto de encontros, harmonizada com mediações. Jesus diz: “Chamai-o”… a divina delicadeza de nos fazer participantes dos seus milagres! Em cada um de nós Ele delega um detalhe da sua missão salvadora. Somos portadores da mensagem que é segredo da salvação. Não são os nossos gestos que salvam, mas têm a missão de apontar a salvação: “Coragem! Ele está a chamar-te”.
Vai: a tua fé te salvou
Mas o grito do cego não vai logo direto ao assunto, parece ser ambíguo: “Tem piedade de mim!” é um pedido que pode ter muitas leituras. Não queria ele a visão? Porque rodeia? O cego não apresenta a Jesus uma cegueira localizada, mas o complexo de cegueiras de todo o seu ser. É este o segredo da fé: lançar-nos por inteiro nas soberanas e sapientes mãos de Jesus. O cego não deu instruções de cura ao curador… mas confiou. Porém, bem sabia qual era o seu ponto fraco… Os milagres de Jesus são milagres porque demandam fé, uma confiante entrega. Não há automatismos. A fé é a porta que abre a salvação! Quando alguém recupera a vista não mais quer perder a luz, por isso o cego seguiu Jesus, seguiu a fonte da Luz.
Caros amigos e amigas, há homens e mulheres sentados à beira do caminho que leva a Jerusalém. A sede encardida à beira da fonte, os passos cativos à beira do caminho, os olhos vedados sob o calor da luz. E a interpelação da nossa fé tem de nos levar a ter e a dar coragem pois há um chamamento, há Evangelho!
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