Toma a tua enxerga e anda!

Caros amigos e amigas, é a presença de Jesus que torna aquele lugar de Cafarnaum numa casa acolhedora, fraterna, rica de intimidade, onde as pessoas se amontoam nos recantos. Ali, S. Marcos revela-nos mais um traço do coração de Cristo: perdoa os pecados à semelhança de Deus. “Um paralítico, transportado por quatro homens” Ele não caminhava mas, quando as costas dos amigos o transportavam, parecia-lhe voar. Os amigos inventam uma estrada que antes não existia, desafiando obstáculos, proibições, regras de etiqueta… E, na força das mãos alheias, o homem paralisado e passivo intui antecipadamente a sua cura. Há um acreditar juntos e um acreditar pelos outros que contagia a fé, levanta sobre a multidão, deposita na casa de Deus os pecados e paralisias humanas. Os escribas, sentados numa esquina, criticam e são incapazes de acolher as surpresas de Deus. Ainda hoje, a paralisia mais perigosa reside naqueles que se vacinam contra a novidade e o milagre, incapazes de reconhecer e promover as sementes de Evangelho que germinam nos recantos da casa da humanidade, quando o Céu se abre, se rasga e se desvela para vir ao nosso encontro. “Filho, os teus pecados estão perdoados” E depois aquelas palavras inesperadas. O paralítico que procurava a cura para o corpo fossilizado encontra palavras paternais de perdão, que ressuscitam para uma vida nova, assinalada já não pelo egoísmo, mas pelo amor e pela alegria. O perdão não deixa as coisas como antes: é o ponto de partida, o início da viagem. Abandonar o pecado é sempre um “levantar-se, tomar a enxerga e seguir para casa”, levando a Deus por companheiro. Talvez tenhamos tanto a fazer para ter uma fé dinâmica, activa, capaz de superar obstáculos para chegar a Jesus. Ali, só é necessário escutar e deixar-se curar. E depois seguir em frente, passando da solidão da paralisia que torna inerte a vida para o prodígio de uma comunhão reencontrada, sem medo de mostrar a enxerga da enfermidade curada, para que todos possam ver as maravilhas que Deus realiza em nós. “Ao ver a fé daquela gente” Foi ao ver a criatividade e a potência do amor daqueles diáconos, anjos anónimos e servos do sofrimento humano, inventores de percursos inauditos, que o Mestre realiza o milagre. Os amigos, ousaram acreditar que o amor pode superar barreiras, até mesmo a da doença e a da distância. E foram correspondidos! O amor verdadeiro suscita generosidade, coragem, engenho e arte. Face à maravilha do amor humano, Jesus mostra a maravilha do amor de Deus. Não só os pecados são perdoados, mas toda a vida é dada em superabundância. E, no último dia, vendo a nossa fé e a fé dos nossos irmãos, Ele nos dirá, descobrindo o tecto dos nossos sepulcros e debruçando-se sobre os nossos leitos de morte: “levanta-te e anda! Ressuscita e caminha rumo à casa do Pai. Em ti existe uma vida nova”! Aí reside, caros amigos e amigas, a esperança do Evangelho!

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