quarta-feira, 20 de abril de 2011

Serei eu?


Antes de entrar no Santo Tríduo Pascal, as Escrituras nos imerge na consciência com que Jesus decide viver a sua Paixão, para revelar-nos o rosto do Deus bendito, o amor infinito do Pai. Lá onde imaginamos que a capacidade de ir ao encontro de um trágico destino derive de uma força divina presente na pessoa de Jesus, a Palavra profética revela que somente a partir de um profundo contacto com a fraqueza pode nascer a possibilidade de não voltar a trás na hora de dar o testemunho. Esta fraqueza é o comportamento de Jesus, o Mestre que fez da escuta dos outros o respiro da sua inteira existência. O Senhor chega a consumar a sua Páscoa por nós porque se fez ouvinte e discípulo da nossa humanidade perdidade: “O Senhor Deus abriu-me os ouvidos, e eu não resisti nem recusei” (Is 50,5). “cada manhã”, cada hora, cada dia da sua existência terrena, Jesus fez “atento” os seus ouvidos a nós, até acolher, sem condições e sem limites, tudo aquilo que em nós há o perfume de vida ou cheira a morte, “”sabendo que não ficaria envergonhado”.
A sua é uma escolha livre e ponderada, que não hesita em declarar com lucidez aos seus discípulos, como fosse uma revelação e não um anúncio de um falhanço eminente: “Em verdade vos digo, um de vós me trairá” (Mt 26,21). Jesus compreendeu que a tropa dos discípulos é desencorajada e cheia de medo e sabe perfeitamente que é “próximo” o tempo da traiçãoe aquele que o levará a cumprimento: “aquele que mete comigo a mão no prato, esse me entregará” (Mt 26, 23). Mas, exactamente por isso não volta atrás e transforma a hora da derrota numa solene liturgia de volontário, livre amor.
O coração do Senhor escutou atentamente o vazio presente no nosso coração ao ponto de escolher assumir sobre si o suplício da cruz para nos libertat do poder do inimigo. Jesus compreende que é verdadeiramente na lama o homem que não sabe escolher a vida como dom de amor. “Seria melhor para esse homem não ter nascido” (Mt 26,24). Assim escolhe morrer para arrebatar este trágico destino do nosso futuro e viver-lo no seu presente, determinando um intervalo entre passado e futuro que ainda hoje chamamos de tempo de salvação.
Na vigília do Tríduo a liturgia procura oferecer-nos uma ultima, dramática oportunidade de envolvimento no mistério pascal, pondo sobre os nossos lábios as palavras da não indiferença: “porventura serei eu?”.

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