No dia em que a Igreja celebrava o Corpus Domini, isto é, a promessa realizada da presença do Senhor da vida entre nós na Eucaristia, era anunciada a todo o mundo a terrível notícia do assassinato de Mons. Luigi Padovese, franciscano capuchinho, bispo e vigário apostólico da Anatólia. Tive a felicidade de trabalhar alguns anos com este franciscano de coração solar e inteligência sensível, pelo que este acontecimento me deixou abalado e me impeliu a deixar sobre ele o meu testemunho. Foi um professor estimado de centenas de alunos espalhados por todo o mundo, pois chegou a leccionar simultaneamente em 3 universidades pontifícias: Antonianum, onde foi presidente durante longos anos do Instituto de Espiritualidade, na Gregoriana e no Alfonsiano. A sua paixão e área de ensino eram os Padres da Igreja, os mesmos que lhe servirão de referência doutrinal e de vida no seu ministério sacerdotal e episcopal, coroado com a prova do sangue. Escreveu e publicou numerosos e importantes livros sobre as origens cristãs, interessando-se particularmente pelo tema das relações entre a fé e os poderes, o testemunho e a intolerância. Depois de longos anos de fecunda investigação e leccionação, foi, em 11 de Outubro de 2004, ordenado Vigário Apostólico da Anatólia e sagrado bispo em Iskenderun (Turquia), em 7 de Novembro do mesmo ano. Nessa altura pensei: “que pena, perdemos mais um excelente professor e mestre, amante dos Padres da Igreja!” Hoje, não sei bem o que pensar, porque os dramáticos acontecimentos me demonstram que os nossos pensamentos não são realmente os de Deus. «Considero uma grande honra ser cristão convosco nesta terra da Turquia que conserva as memórias do primeiro cristianismo», foram as palavras que, na altura, dirigiu aos cristãos da Turquia, uma minoria de 120 mil (30 mil católicos), num país de 75 milhões de confissão predominantemente muçulmana (99%). Na verdade, estas foram as duas grandes paixões de Luigi Padovese: a redescoberta das origens cristãs da Turquia que considerava a “terra santa da Igreja primitiva” e o diálogo com as religiões e igrejas não cristãs hoje presentes nessa terra que, há muitos séculos, tem sido a ponte entre o oriente e o ocidente. Estabelecer pontes de encontro e diálogo entre mundos tão diferentes foi, realmente, a paixão e tarefa prioritárias assumidas há muito por este estudioso e amante da cultura e dos homens. Desde 1989 que organizava Simpósios em Éfeso, Tarso ou Antioquia, onde reunia os maiores especialistas da actualidade para aprofundar as raízes bíblicas, patrísticas e cristãs da antiga Ásia Menor, actual Turquia. Para estes encontros de elevado nível científico, convocava não apenas estudiosos católicos, mas também docentes de universidades turcas e muçulmanos.
Como pastor da Igreja na Anatólia, Mons. Luigi Padovese empenhou-se em avivar e divulgar essa «herança de memórias e de santidade» de que as ruínas arqueológicas ainda falam, mas da qual continuam a dar testemunho sobretudo a minoria de cristãos que, apesar de hostilizados, se mantêm firmes na sua fé. Foi a estes que o pastor se dedicou especialmente nos últimos anos da sua vida. Num país que se diz laico, mas que promove uma laicidade reactiva; face a leis que dizem respeitar a liberdade religiosa, mas só quando um cristão se converte ao Islão; numa sociedade que condena ao ostracismo todos os baptizados; numa nação onde a Igreja não o pode ser, onde se proíbem os seminários, escolas ou outras instituições católicas, Mons. Luigi Padovese investira todos as suas forças e conhecimentos na defesa dos direitos humanos e religiosos das minorias, especialmente, da minoria católica confiada aos seus cuidados de pastor. E foi, de facto, um bom pastor. Inspirando-se nos Padres da Igreja, especialmente em S. João Crisóstomo, escolheu como lema do seu episcopado In Caritate Veritate (a verdade no Amor). «São palavras – explica-nos ele próprio – que exprimem o meu programa de busca da verdade na estima e recíproco amor. Se é verdade que quem mais ama mais se aproxima de Deus, é também verdade que por esta via nos aproximamos do sentido verdadeiro da nossa existência que é um viver para os outros. Sobre esta convicção se funda também a minha vontade de diálogo com os irmãos ortodoxos e os de outras confissões». Estas palavras dizem bem da grandeza e generosidade de alma deste homem culto e dotado de um imenso coração.
Acontecimentos recentes e alguns retrocessos no processo de diálogo com o Islão, foram doseando o optimismo do bispo franciscano, mas não o demoveram do seu programa cultural e pastoral. Por mais de uma vez terá confessado que a sua vida «estava suspensa entre a fé e o perigo». O recente e silencioso surto de islamização do país vinham criando maiores dificuldades aos cristãos nos anos recentes. Mas o pastor não se demovia do seu esforço de diálogo e reivindicação da liberdade para as minorias crentes. Numa homilia da última Páscoa confessava que, para alguns dos seus cristãos, «a Via sacra não é coisa do passado, mas um facto de todos os dias». Evocava, a propósito, a «experiência do martírio do Pe. Andrea Santoro», um sacerdote assassinado, em Fevereiro de 2006, por um jovem muçulmano. Depois deste dramático acontecimento e de outros sinais inquietantes, Dom Luigi Padovese ia tomando algumas precauções, mas continuava a abrir sua casa, em Iskenderun, a todos os que vinham por bem. Foi o que sucedeu, mais uma vez, no dia 3 de Junho, quando o seu motorista Marat que era uma espécie de fac totum da casa e a quem o bispo muito tinha ajudado, esperando, por isso, merecer a sua confiança. Mal imaginava o bom bispo que afinal acolhia sob o seu tecto há mais de 4 anos o seu assassino. Não era a primeira vez que acontecia. Repetia-se o crime de Judas e a história da missão da Igreja está repleta de traições como esta. As vítimas são sempre homens bons que acreditam e sonham com um mundo habitado por homens de boa vontade. Frei Luigi Padovese foi mais um desses que, como Cristo e Francisco de Assis, deram a vida por amor e ao serviço do Evangelho da paz.
Como pastor da Igreja na Anatólia, Mons. Luigi Padovese empenhou-se em avivar e divulgar essa «herança de memórias e de santidade» de que as ruínas arqueológicas ainda falam, mas da qual continuam a dar testemunho sobretudo a minoria de cristãos que, apesar de hostilizados, se mantêm firmes na sua fé. Foi a estes que o pastor se dedicou especialmente nos últimos anos da sua vida. Num país que se diz laico, mas que promove uma laicidade reactiva; face a leis que dizem respeitar a liberdade religiosa, mas só quando um cristão se converte ao Islão; numa sociedade que condena ao ostracismo todos os baptizados; numa nação onde a Igreja não o pode ser, onde se proíbem os seminários, escolas ou outras instituições católicas, Mons. Luigi Padovese investira todos as suas forças e conhecimentos na defesa dos direitos humanos e religiosos das minorias, especialmente, da minoria católica confiada aos seus cuidados de pastor. E foi, de facto, um bom pastor. Inspirando-se nos Padres da Igreja, especialmente em S. João Crisóstomo, escolheu como lema do seu episcopado In Caritate Veritate (a verdade no Amor). «São palavras – explica-nos ele próprio – que exprimem o meu programa de busca da verdade na estima e recíproco amor. Se é verdade que quem mais ama mais se aproxima de Deus, é também verdade que por esta via nos aproximamos do sentido verdadeiro da nossa existência que é um viver para os outros. Sobre esta convicção se funda também a minha vontade de diálogo com os irmãos ortodoxos e os de outras confissões». Estas palavras dizem bem da grandeza e generosidade de alma deste homem culto e dotado de um imenso coração.
Acontecimentos recentes e alguns retrocessos no processo de diálogo com o Islão, foram doseando o optimismo do bispo franciscano, mas não o demoveram do seu programa cultural e pastoral. Por mais de uma vez terá confessado que a sua vida «estava suspensa entre a fé e o perigo». O recente e silencioso surto de islamização do país vinham criando maiores dificuldades aos cristãos nos anos recentes. Mas o pastor não se demovia do seu esforço de diálogo e reivindicação da liberdade para as minorias crentes. Numa homilia da última Páscoa confessava que, para alguns dos seus cristãos, «a Via sacra não é coisa do passado, mas um facto de todos os dias». Evocava, a propósito, a «experiência do martírio do Pe. Andrea Santoro», um sacerdote assassinado, em Fevereiro de 2006, por um jovem muçulmano. Depois deste dramático acontecimento e de outros sinais inquietantes, Dom Luigi Padovese ia tomando algumas precauções, mas continuava a abrir sua casa, em Iskenderun, a todos os que vinham por bem. Foi o que sucedeu, mais uma vez, no dia 3 de Junho, quando o seu motorista Marat que era uma espécie de fac totum da casa e a quem o bispo muito tinha ajudado, esperando, por isso, merecer a sua confiança. Mal imaginava o bom bispo que afinal acolhia sob o seu tecto há mais de 4 anos o seu assassino. Não era a primeira vez que acontecia. Repetia-se o crime de Judas e a história da missão da Igreja está repleta de traições como esta. As vítimas são sempre homens bons que acreditam e sonham com um mundo habitado por homens de boa vontade. Frei Luigi Padovese foi mais um desses que, como Cristo e Francisco de Assis, deram a vida por amor e ao serviço do Evangelho da paz.
Fr. Isidro Lamelas OFM
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ResponderEliminarmaomé assassinou allah