terça-feira, 24 de abril de 2012

E VIU QUE ERA COISA BOA!

Se queremos compreender uma “filosofia” devemos olhar o modo com que ela apresenta a relação entre as pessoas e as coisas. Mais do que nas enunciações teóricas, uma visão da vida se revela por aquilo que é ao descrever o significado das coisas para a pessoa. O homem verdadeiro se vê no modo como vive a circunstância. A palavra “circunstância” indica o que está à nossa volta. Nós vivemos circundados de pessoas e de coisas Mas dizer isto não basta. Não somos câmeras de filmar que registram com indiferença aquilo que vemos. Na verdade, as coisas nos provocam; são “palavras” que batem á porta da nossa existência e pedem para serem hospedadas. Todas as coisas que acontecem são pro-vocações. E aqui nascem os problemas! As coisas suscitam em nós atracção e repúdio. Concentremos a nossa reflexão sobre as coisas que nos atraem. Muitas vezes temos medo destas coisas que nos atraem. Porquê? Porque muitas vezes se acolhermos a promessa de prazer e de satisfação que trazem consigo e se nos deixarmos envolver, depois tomamos conta que podemos ficar escravos destas coisas e pessoas; outrossim, temos medo que aquilo que nos atrai nos cause grandes desilusões. As coisas parecem consumir-se e tornam-se assim, tarde ou cedo, em causa de dor. De facto os nossos sofrimentos estão sempre ligados aos nossos desejos. Por isso, ao fim ao cabo, existem duas “filosofias”: uma que diz: tudo neste mundo acaba um dia, aproveita o que se pode aproveitar sem se comprometer com nada. É a filosofia do carpe diem. A outra é a vida ascética na qual as coisas são tidas como más e em alternativa a Deus e por isso devem ser evitadas. Na vida cristã, porém, as coisas são boas (Gn 1,4-31). Isto está escrito desde o início da Bíblia e se repete várias vezes (Sabedoria 1,14) até São Paulo, que afirma: tudo o que foi criado por Deus é bom e nada deve ser desperdiçado (cf. 1Tm 4,4). Para a visão cristã da vida as coisas são boas porque são criaturas, isto é, queridas por Deus e por isso, “sinais”. E nós podemos viver bem a realidade, gozar das coisas quanto mais as tomamos como sinal através do qual Deus nos fala e nos faz caminhar para na sua direcção. Neste caminho não são mais as coisas que nos possuem, mas somos nós que aprendemos a possuir as coisas em Deus. ver as coisas como sinal de Deus quer dizer vê-las como as via Jesus, com os olhos do Pai. Assim, exactamente porque reconheces que tudo é de Deus, tudo se transforma teu, e és chamado a ser filho de Deus em Cristo. Sabem como se chama o ponto mais alto deste modo de sentir e gozar as coisas, as relações e as pessoas? Chama-se virgindade! A sério? Sim! A virgindade cristã não é fuga da realidade, mas é viver todas as coisas como as vivia Jesus, possuir as coisas como Jesus. 


Frei Paolo Martinelli (capuchinho e professor universitário)

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