segunda-feira, 18 de abril de 2011

Na ponta dos pés!


Escutando o Evangelho desta Segunda Feira Santa, 19 de Abril, somos todos inundados pela fragrância daquele “perfume” que um dia encheu “toda a casa” dos amigos de Jesus (Jo 12,3). Lázaro tinha saído vivo do sepulcro, a alegria tinha-se transformada numa fraterna ceia. “Marta andava a servir
e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Jesus” (12,2). Maria, no entanto, literalmente fora de si, transforma a sua alegria numa gratidão sem confins: “tomou uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-Lhos com os cabelos” (12,3).
O caminho em direcção ao Tríduo Pascal inicia assim, com uma excessiva onda de perfume na qual se prefigura e se intui todo o significado da paixão do Senhor Jesus. A linguagem da Páscoa se exprime e se compreende no campo do amor, onde o raciocínio, o cálculo prudente, a conveniência devem ceder o passo à lúcida loucura do dom gratuito.
Maria compreendeu a segreda beleza do Cristo. No estranho modo com que Jesus esperou e depois libertou Lázaro do mau cheiro da morte, Maria intuiu que o “servo” de Deus veio ao mundo para dar alegria e salvação. O fará porém humildemente, com extrema delicadeza: “Não gritará, não levantará a voz, não aclamará nas ruas. Não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a fidelidade a verdadeira justiça” (Is 42,2-3). Como um perfume, realidade impalpável que chega a todos os lugares, mudando tudo sem alterar nada. A salvação cristã não é a abolição dos limites do nosso ser criaturas ou os gerados pelo mau uso da nossa liberdade, mas é amor que enche de esperança todo o medo de viver e de morrer. É perfume que restitui dignidade a todas as coisas. Até ao pecado e à morte.
Não é imediato compreender e apreciar esta paradoxal modalidade de salvação. Existe em nós uma parte tão habituada a crer que viver consiste no possuir e dominar que muitas vezes não sabemos fazer outra coisa senão “fincar os pés” diante da lógica das bem-aventuranças: “porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para dar aos pobres?” (Jo 12,5) Em Judas vemos representada toda a humanidade desfalecida pela sua fraqueza mortal, que tem dificuldades em crer no doce poder do amor. Mas o Senhor comanda ao seu revoltado discípulo: “Deixa”. Somente obedecendo a este imperativo se entra na festa da Páscoa: abandonando as armas, renunciando os juízos, desobedecendo aos mesquinhos lamentos do coração. Na ponta dos pés!

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