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A mostrar mensagens de setembro, 2010

Nada te é impossível!

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Escutando as leituras do livro de Job que a liturgia nos tem vindo a propor nestes dias, leituras, bem ,como o livro, que abordam a difícil questão do mal. Livro e leituras de extraordinária beleza e dramaticidade.   Escutando e meditando essas leituras tenho recordado na minha oração tantas pessoas provadas pelo sofrimento e pela dor que pedem a minha oração e a da minha fraternidade. Dizem: “Reze por mim porque a si Deus escutará” ou “reze pelo meu filho tu que estás mais perto de Deus.” Muitas vezes são casos realmente dramáticos. Eu na minha miséria de frade respondo quase sempre, quando as circunstancias o permitem: “Reze você também e verá que Deus nos escutará e que é tanto perto de mim quanto de si.” Sim, porque a oração, nas suas diversas formas, pertence a todo o crente não é apanágio de ninguém e Deus escuta com a mesma docilidade e prontidão todos os seus filhos que na humildade e simplicidade o imploram. Aliás a última parte do Livro de Job demonstra com inegável clareza i

A riqueza que cega!

Eis ainda uma parábola sobre a má riqueza. Notemos, em primeiro lugar, que é a única parábola em que Jesus dá um nome a um dos protagonistas da história que inventa. O pobre chama-se Lázaro. Este nome, em hebraico, significa “Deus socorreu”. É bem isto que Jesus fez pelo seu amigo. O rico, esse, é descrito com todo o fausto que o rodeava: vestidos luxuosos, festins sumptuosos e quotidianos. Mas não tem nome. Ele é “o rico”. Aos olhos de Deus, os que ocupam o primeiro lugar são os pobres. Vamos mais longe. Uma frase é central no relato: “Lázaro bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas”. Uma frase muito próxima da parábola do filho pródigo, quando o filho mais novo lamenta não poder comer as bolotas dos porcos. O filho mais novo simboliza, sem dúvida, o homem pecador fechado na sua solidão. O pobre Lázaro, esse, é vítima do pecado do rico, mas o resultado é o mesmo: não são vistos por ninguém. Ninguém lhes dá atenção. Só os cães vê

Irmãos felizes!

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O primeiro livro que os Capuchinhos da minha Paróquia ofereceram-me quando manifestei o desejo de fazer-me frade como eles tinha este belíssimo título: "Irmãos felizes." O livro narrava muito simpaticamente a vida de todos os santos e beatos capuchinhos. O frei que ofereceu-me o livro simplesmente disse-me: "assim começas a conhecer a nossa vida." Li aquele livro num instante e gostei imensamente. Depois de iniciar o caminho formativo entre os irmãos capuchinhos tive ocasião di reler aquele livro e ainda o tenho conservado comigo. Depois de já professo entendi a ousadia dos frades da minha Paróquia que na altura acolheram-me. Eles apresentaram-me como projecto de vida a santidade. Ser capuchinho é entrar no dinamismo da santidade, é ser um irmão feliz!  já manifestei várias vezes a minha gratidão pelos irmãos capuchinhos de Cabo Verde e pelos nossos missionários, que encarnados na nossa sociedade e na nossa Igreja souberam testemunhar a beleza de um carisma que tem

Prefiro a misericórdia!

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Existem pessoas que, independentemente do seu valor pessoal, não nos são simpáticas simplesmente pela sua profissão ou pela categoria a que pertencem. Mateus, cuja festa hoje celebramos, era uma delas. Com uma definição moderada, diríamos que era um financeiro (esta categoria nos é ainda menos simpática depois da ultima grande crise financiaria e económica que afectou-nos a todos), que se sentava no no seu banco de trabalho impondo e recolhendo os impostos e talvez extorquindo impostos e taxas aos seus concidadãos. Essas pessoas ou categorias mesmo quando fazem o seu trabalho honestamente, sua presença é sempre perturbadora. A Mateus, cobrador de impostos, Jesus chama e em tom de comando diz-lhe: "Siga-me e ele se levantou e o seguiu”. Ao banquete que se segue podemos encontrar, juntamente com os publicanos e pecadores, Jesus e seus discípulos. Isto era motivo de admiração e de escândalo para os falsos puritanos: sentar à mesa com certas categorias de pessoas significava ficar

Determinação e astucia pelo Reino!

Eis Jesus que se põe a dissertar sobre a economia, mas uma economia que parece envolver falsários... Como compreender tal parábola na boca de Jesus? Podemos logo pensar que Ele não quer dar o administrador desonesto como exemplo, mesmo se o mestre deste faz o seu elogio. Jesus chama-o explicitamente “administrador desonesto, com esperteza”. Jesus conhece o coração do homem, um coração perverso. Mas Jesus não fica nesta dimensão do coração do homem. Ele sabe que em todo o homem, por mais pervertido que seja, há sempre um cantinho positivo. Ele vê a prova de habilidade do administrador para conseguir se safar. Esta habilidade é colocada ao serviço de um mal. Mas, em si mesma, pode ser posta ao serviço do bem. Então, diz Jesus, se vós, meus discípulos, que sois chamados “filhos da luz”, sabeis ser tão habilidosos a respeito da vossa vida cristã, quantas coisas poderão mudar! Jesus aproveita para recordar o seu ensino constante sobre o dinheiro e a riqueza material. Não podemos viver sem

Aquele excessivo amor!

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Sabemos que Francisco celebrava várias Quaresmas durante o ano. Eram sempre momentos de grande oração e recolhimento. Momentos inteiramente dedicados a Deus. Uma destas quaresmas, a de S. Miguel Arcanjo de 1222 no cimo do Monte Alverne, Francisco viveu uma experiência singular e determinante: foram-lhe impressas as chagas de Cristo crucificado.  Numa sua carta circular o ex-Ministro Geral dos capuchinhos, frei  John Corriveau , actual bispo de Nelson, Canada fazia esta reflexão:    “A cruz de Jesus envolve Francisco desde os primeiros momentos da conversão até quando desce do Alverne, ícone do Crucificado. Ele encarnou as palavras de São Paulo: “Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo” (Gl 6,14). Francisco foi transformado pela compaixão do Crucificado. No Alverne rezou: “Que eu sinta no meu coração... aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflama

São perdoados os teus muitos pecados, porque muito amaste!

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Quanto amor naquele gesto. E quanta consciência do próprio pecado. Não ousa sequer olhar o seu rosto, bastam os pés do Mestre para dizer-nos quem somos e quem é Deus. Pés que recolheram as poeiras da nossa frágil humanidade, pés sujos da nossa soberba argila, pés pregados pelo nosso pecado à misericórdia de Deus, eternamente. Pés feridos, pés que esperam de ser banhados pelo precioso perfume do nosso arrependimento, do nosso amor que implora perdão. “São perdoados os teus muitos pecados porque muito amaste”, os corações pequenos não entendem. “Se fosse um profeta saberia...”: ele sabe, mais que todos sabe. Mais de Simão sabe a medida do coração de Deus. Mais que ela, a pecadora, sabe quanto é grande o mal que a habita. Mais do que ela sabe quanto perfume de perdão daquele momento em diante banhará a sua vida, e a nossa. Ele sabe, e por isso diz: vai em paz!  Clica aqui para ver o video sobre este episodio

Aos pés da Cruz!

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Muitas pessoas presenciaram curiosos a crucifixão de Cristo no alto do Calvário.  São muitos os que assistiam atónitos ao suplício de um homem inocente. mas, são poucos os que ficaram aos pés da cruz: a mãe de Jesus; a irmã de Maria de Nazaré, Maria de Cleofas e Maria de Magdala, e nos assegura mais a frente o evangelista que perto da mãe estava também o discípulo amado de Jesus. Um pequeno grupo de pessoas. Somente um pequeno grupo de fidelíssimos têm a coragem de não fugir e testemunhar a própria fé Nele. Somente poucos audazes, juntamente com Maria têm a coragem de suportar com Cristo a dor e o sofrimento por uma morte injusta. Hoje, na Solenidade da Virgem das Dores somos chamados a contemplar Jesus no maior gesto de obediência da sua história. Somos chamados a olhar para Cristo e o mistério da nossa salvação, através do olhar da Mãe.  Contemplar este drama na vida da família de Nazaré, o último evento que Maria vive com o Filho, é quase entrar nos sentimentos de uma mãe com um fil

A Cruz é vida!

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Hoje, 14 de Setembro, os cristãos de todo mundo celebram a Exaltação da Santa Cruz. Uma festa que remonta aos longínquos anos 335 quando foi celebrado pela primeira vez. É uma festa celebrada quase por toda a cristandade sendo, porém, muito mais solene nas Igrejas Ortodoxas.   Parece, todavia, estranho comemorar a exaltação de um instrumento de dura tortura como a cruz. Sabemos que ela constituiu um aspecto escandaloso na vida de Jesus. Os doze provavelmente esperavam alguma coisa de Jesus, mas não este fim assim trágico. Tinham deixado tudo por causa dele, fascinados pelas suas palavras, pelos seus milagres, a sua intimidade com Deus e… de repente, acaba pendurado na cruz como um malfeitor. Irreconhecível. Impotente. Tento imaginar seus pensamentos e as suas perguntas... Onde foi aquele mestre poderoso que liberta dos demónios e das doenças?  Onde se escondeu o profeta que encanta multidões com suas palavras cheias de novidade e beleza? Onde está o homem maravilhoso  que soube pene

Senhor, fazei de mim um instrumento da tua Paz!

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Nove anos atrás, quando, num dia como este, acontecera o ataque por parte da Al Qaeda às Torres gémeas e ao Pentagono nos Estados Unidos da América eu participava a um acampamento vocacional na ilha Brava e preparava para ingressar no aspirantado capuchinho em São Vicente, o que viria a acontecer no dia 16 de Setembro.  Quando o frei que nos acompanhava no acampamento deu-nos a notícia do atentado confesso que não intuí a dramaticidade do evento e, como viria a condicionar a história nos anos que se seguiram. Não intuí na altura a seriedade da questão porque nem sequer sabia quem era Bin Laden ou Al Qaeda. Não podia imaginar que alguém fosse capaz de morrer para matar tantos inocentes de uma só vez. Não entrava na minha lógica de jovem e de cristão.  Mas acabei por perceber quanta dor e, porque não, quanto rancor, nasce no peito de quem perdeu pai, mãe, irmão ou irmã , namorado o mesmo um amigo. Sim porque o ódio gera ódio ainda mais feroz.  Nove anos depois, após entender muito bem

Um Deus que faz festa!

A parábola do filho pródigo é a mais conhecida das três “parábolas da misericórdia”. Mas as duas primeiras dão-nos também uma grande luz. Recordemos que as ovelhas tinham grande importância para o pastor. Não se pode aceitar que ele perdesse uma. Quanto à dracma, era uma soma importante. Basta pensar que uma família inteira podia viver um dia com duas dracmas. Compreende-se que a mulher que a perdeu tudo faça para a encontrar. Jesus precisa: o pastor procura a sua ovelha perdida “até a encontrar”; a mulher procura a dracma perdida “até a encontrar”. Através destas duas personagens, é o Pai que Jesus nos quer mostrar. Eis como o nosso Pai age: diante dos homens que se afastam d’Ele, que vão por caminhos de perdição, Ele parte à sua procura, mas nunca pára esta procura. Quando há um naufrágio, efectuam-se procuras para encontrar as vítimas. Mas, ao fim de um certo tempo, acabem-se estas procuras: já não há mais esperança! Mas não para Deus. Ele vai até ao fim, Ele encontrará de qualqu

No meio do Povo!

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Um bispo de uma diocese ao redor de Roma mandou construir uma grande igreja paroquial com todos os serviços próprios de uma paróquia no interior de um grande centro comercial onde trabalham cerca de mil pessoas e circulam cerca de 10 mil visitantes por dia sendo que este numero quase se duplica aos fins de semana. Esta decisão no mínimo ousada e inédita do bispo, naturalmente não é consensual. Muitos defendem que os centros comerciais são a negação da cidade e como, ao menos em Itália, o edifício eclesial está quase sempre ao centro da cidade e é motivo de agregação das pessoas, construí-la num centro comercial é ceder aos poderes económicos e capitalistas. Outros defendem a velha lógica de que “se Maomé não vai à montanha é a montanha que vem ao Maomé.” Neste caso, dizem, se as famílias trabalham toda a semana e o único dia que têm livre para as compras e para o lazer é o Domingo, ter uma igreja onde vão as famílias de Domingo é responder a uma necessidade séria. Eu, ouvindo todo este

Calcular e Reflectir!

Podemos ainda comentar esta página do Evangelho? Jesus, decididamente, é demasiado duro, as suas exigências demasiado radicais: “Se alguém vem ter comigo, sem Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo... Quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo». Sem contar com este convite ao sofrimento: “Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo”. Parece que Jesus quer desencorajar quem quer ser seu discípulo. Como compreender? Primeiro, é preciso compreender que Lucas escreve o seu Evangelho num contexto de perseguições. Alguns cristãos preferiam morrer a renegar a sua fé. Outros, talvez os mais numerosos, escolhiam colocar, pelo menos momentaneamente, a sua fé entre parêntesis para salvar os seus bens, a sua família e a sua própria vida. São Lucas quis, não tanto condenar estas fraquezas na fé, mas sobretudo dar um forte encorajamento àqueles que se mantin

À tua palavra lançarei as redes!

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O que será que pensou Pedro, à beira do lago, quando a voz daquele Mestre desconhecido o convidava a fazer-se ao largo para recomeçar a pescar? Como podia ser possível tudo isto, depois de uma inteira jornada de trabalho terminada mal? Talvez o tenha considerado um tolo, ou talvez, um ingénuo. O Evangelho de hoje nada diz, e ainda bem! Porque o que realmente conta é que Pedro confiou de imediato, não ficou na sua comodidade de quem olha de longe, de quem espera compreender tudo com antecedência, antes de decidir, de quem não risca, de quem não toma decisões com medo de comprometer-se. Não! Pedro corresponde ao convite, não certo porque compreendeu tudo, nem porque se sentia invencível, mas apenas e exclusivamente porque aquela Palavra não era como as outras e, mais do que todas as outras, tinha tocado as cordas do seu desejo, entristecido daquele trabalho quotidiano concluído com desilusão. Aquela voz tinha (re)despertado no coração do pescador a expectativa de uma pesca maior, de uma