Assim presente!

 A festa da transfiguração convida-nos a voltar o olhar à pessoa de Jesus num momento especial da sua vida terrena, no dia em que “sobre um alto monte” ele “transfigurou-se” dainte de “Pedro, Tiago e João” (Mt 17,1.2) e estes tornaram-se “testemunhas oculares da sua grandeza” (2Pedro 1,16). A tradição sempre interpretou este episódio em chave pedagógica, como um sinal oferecido aos discípulos para os suster ao impacto com a realidade e a lógica da cruz. 
Escreve um grande doutor da Igreja: “o papel principal da Transfiguração era remover do coração dos apóstolos o escândalo da cruz, para que a humildade da paixão por ele desejado não perturbasse a fé deles, sendo-lhes já manifestada em antecipação a excelência da sua dignidade escondida” (São Leão Magno). Sem dúvida trata-se de um significado que pertence à verdade deste mistério da vida de Cristo. O Senhor Jesus desejava anunciar com clareza que na sua eminente paixão de amor ele não estava perdendo a vida, mas a estava doando. Os discípulos, da parte deles, tinham certamente necessidade de “conhecer a potência e a vinda do Senhor” (2Pedro 1,16) para continuar a suportar o peso do seguimento, sem dar demasiada importância ás incompreensões e falhanços. 
Mas o Evangelho sugere também uma outra chave de leitura. A “voz” do Pia que se ouve “das nuvens” (Mt 17,5) quer fazer entender aos discípulos não só que o Filho do homem é verdadeiramente Filho de Deus, o amado, mas também que verdadeira glória consiste no acolhimento da vida como missão e como serviço. Somente que escolhe a solidariedade e a partilha com os outros conquista “um poder eterno, que não acaba jamais, e o seu reino não será nunca destruído” (Dn 7,14). De facto, próprio neste momento altamente estético, o Pai reafirma o caracter ético da vida de Jesus, pronunciando as mesmas palavras ouvidas por todos quando o carpinteiro de Nazaré mergulhou no Jordão, manifestando a decisão de uma incondicional irmandade com o homem mergulhado no pecado. Além disso a recomendação final de Jesus aos três discípulos “Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos” (Mt 17,9) revela que o sentido da transfiguração pode ser plenamente entendido não somente em relação à morte mas em relação à ressurreição, quando será possível compreender onde termina a parábola de uma vida doada por amor.
A luz da transfiguração não é portanto só um bálsamo, mas também um convite: “escutai-o”. Aqueles que no Filho se sentem chamados a tornarem-se filhos devem abraçar a mesma lógica de obediência em que está toda a “complacência” do Pai, para serem depois “transformados naquela mesmíssima imagem de glória em glória, segundo a acção do Espírito do Senhor” (2Cor 3,18). Diante de um mistério assim atraente, não nos resta que escutar a recomendação de um luminoso testemunha do Evangelho que pode ressoar em nós como um doce convite: “Grande miséria e miserável debilidade, quando o tendes tão presente e vós buscais alguma outra coisa em todo o mundo”. (São Francisco de Assis, Carta a toda a Ordem 25)  

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