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A mostrar mensagens de março, 2011

A força da Palavra!

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Iniciámos o período da Quaresma já alguns dias. Por isso, talvez fosse necessário, recordar-nos estas palavras «não só do Pão o homem vive», mas «de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4,4). A palavra que sai do coração do Senhor é sempre «viva, eficaz» (Eb 4,12), como o profeta Isaias consegue explicar com uma imagem de rara beleza: «Assim como a chuva e a neve descem do céu, e não voltam mais para lá, senão depois de empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar, para que dê semente ao semeador e pão para comer, o mesmo sucede à palavra que sai da minha boca não voltará para mim vazia, sem ter realizado a minha vontade e sem cumprir a sua missão.» (Is 50,10-11). Esta extraordinária força produtiva da palavra deriva do facto que quando Deus fala não existe nenhuma fractura entre o que diz e o que faz. As suas palavras são frutuosas porque contêm promessas autênticas, porque são «factos» em antecipação. Por isso conseguem operar maravilhas naqueles que as acolhem e as consi

Água Viva!

Depois da visão sintética da história da salvação através da memória de Adão e de Abraão nas primeiras leituras dos dois primeiros domingos de Quaresma do ciclo "A", os três próximos domingos, com as imagens da água, da luz e da vida apresentam a temática sacramental ligada à iniciação cristã.    O dom da água no deserto que sacia a sede do povo durante o caminho do Êxodo é sinal da solicitude de Deus (I leitura); no evangelho o simbolismo da água evoca a acção do espírito e da Palavra, isto é, "o dom de Deus" (Jo 4,10) que dispõe a mulher a acolher o dom da fé; o dom do Espírito é sinal do amor divino no coração do Homem (II leitura). O evangelho interpela o crente sobre a sede, sobre o desejo que existe em si. E sugere que a nossa sede mais profunda é de encontro e de relação. O encontro de Jesús com a samaritana começa com uma ousadia: "Dá-me de beber" (Jo 4,7). O encontro implica a coragem de quem se faz mendicante apresentando-se despojado ao outr

Este é o meu filho, escutai-o!

Na Bíblia, a montanha é sempre o lugar da revelação. São os homens como Moisés (Êxodo 19) e Elias (1Reis 19) que Deus encontra. Diz-se também que rosto de Moisés transfigurou-se depois do encontro com Deus: "Moisés desceu do monte Sinai, trazendo na mão as duas tábuas do testemunho. Não sabia, enquanto descia o monte, que a pele do seu rosto resplandecia, depois de ter falado com Deus" (Êxodo 34,29). A magnificência da revelação divina é comunicada também aos que a recebem e se tornam mediadores da Palavra de Deus. Jesus brilha como o sol aos olhos dos três discípulos: isto o identifica como aquele que é a última revelação de Deus, como aquele que supera todos os seus antecessores. Aliás, o facto de Moisés e Elias aparecerem a falar com ele sublinha isto mesmo. Moisés e Elias representam a lei e os profetas, isto é a revelação divina que precede Jesus Cristo que é a manifestação suprema de Deus. É isto mesmo que mostra a nuvem luminosa - lugar da presença divina (como em

Uma oração sem retórica

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O Pai Nosso é uma maravilhosa oração por causa da sua sobriedade: não há uma palavra a mais nem inúteis adjectivos. Já o sábio Qohelet dizia que a oração deve ser de poucas palavras. Poucas, mas verdadeiras. A que serve multiplicar as palavras? As palavras inúteis e a mais cansam a Deus e aos homens. De facto Jesus ensinou o Pai Nosso exactamente para contrapor-se às intermináveis orações dos pagãos: “porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos ”. O Pai Nosso é uma oração de pedidos, não de louvor, nem de agradecimento. Simplesmente de pedidos. E isto é esplendido! Pensamos - às vezes - que a oração de pedidos é mais humilde, a mais interesseira das orações, num certo sentido até indigno do homem maduro na fé. Talvez! Eu, porém, pessoalmente penso que a oração de pedidos é a mais verdadeira de todas as outras. É aquela que fotografa o homem nas suas mais reais dimensões: o perigo, a impotência, o medo e a miséria. Próprio porque é uma oração de pedidos, somente de pedidos, o

As tentações de Jesus e as nossas...

O caminho quaresmal que na passada quarta feira iniciámos e que neste primeiro Domingo é marcado pelas tentações de Jesus nos convida a encontrar o Senhor e com ele superar as nossas muitas provas. Jesus é apresentado como o novo Adão que, contrariamente ao primeiro, resiste às tentações. Mas ele é também o representante do novo Israel que, contrariamente ao povo de Deus durante a travessia do deserto que durou 40 anos, coloca radicalmente a sua vida nas mãos de Deus - enquanto o povo regularmente rejeitava ser conduzido por Deus. Em cada uma das três tentativas de sedução, se trata de pôr à prova a confiança em Deus. Diz-se no Deuteronomio (Dt 6,4): “escuta Israel: o Senhor é o nosso Deus, o Senhor é único! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”. Isto significa exigir que Deus seja o único amado por Isarael, o único que merece confiança. Isto significa também renunciar ao próprio poder de “tornar-se como Deus” (Gn 3,5).

Quaresma, tempo de prova!

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Com o austero e penitencial rito da imposição das cinzas, a Igreja que celebra o mistério de Cristo, inicia o tempo da Quaresma: quarenta dias em vista da Páscoa, evento que deve ser preparada com muita oração, com uma escuta mais atenta da Palavra de Deus, com um estilo de vida sóbrio e solidário com os outros, começando pelos mais pobres.  Ao centro da Quaresma está o convite à conversão: mas de qual conversão se trata? A nossa resposta vai imediatamente em direcção a uma conversão de tipo moral, ou seja, uma conversão dos nossos comportamentos. Todavia, se nos deixarmos guiar pelo modelo fundamental da Quaresma cristã, que é o tempo passado por Jesus no deserto, antes do início do seu ministério público (é o Evangelho do primeiro Domingo da Quaresma)  e a tentação que ele viveu, notaremos que em primeiro plano está uma conversão, que chamaria “teológica”, que tem a ver com a nossa imagem de Deus e da relação que vivemos com ele.  Os evangelistas concordam na leitura deste tempo como

Construir sobre a rocha!

No Evangelho deste IX Domingo do Tempo Comum reconhecemos duas partes. A primeira diz-nos que Jesus não faz qualquer distinção entre os homens: não é porque dissemos: “Senhor, Senhor”, profetizado e realizado milagres em seu nome que seremos reconhecidos por ele naquele dia, mas só se tivermos feito a vontade do Pai, assim como ele fez. A vontade do Pai é que ouçamos e acreditemos naquele que enviou, pois somente através da fé em Jesus Cristo, recebemos a justiça de Deus, como sugerido na segunda leitura deste Domingo. Se tivermos fé, no entanto, ouviremos esta resposta: “não vos conheço”. Na segunda parte, Jesus diz que podemos reagir de duas maneiras diferentes diante das suas palavras. Devemos entender que este discurso, juntamente com o da montanha, é uma síntese do seu ensinamento. De facto a justiça, a esmola, a oração, o abandonar-se à Providência são a regras de ouro do seu ensinamento: “Fazei aos outros o que quereríeis que eles vos fizessem”. Regra que João traduz assim:

Entre vós não seja assim!

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«Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.» (Mc 10,43-45) Com estas lapidares palavras de Jesus contêm quatro advertências que directamente nos interessam hoje mais do que nunca. A primeira é que servir é uma dimensão da inteira existência humana e não somente um fragmento do nosso tempo e do nosso agir. Isto porque servir toca a pessoa, não simplesmente as suas acções e as suas coisas. Servir é um modo de existir, um estilo que nasce do profundo de si mesmo. É esta profundidade (isto é no próprio modo de pensar mais do que de agir) que nos deve constantemente interrogar, se na verdade se quer aprender a servir.  A segunda adver