Luz entre as mãos!

A liturgia da Festa de hoje abre-se com um sugestivo lucernário, um gesto fortemente simbólico que introduz a celebração eucarística. Todos os fiéis são convidados a acolher entre as mãos uma vela, e em procissão entram na igreja protegendo a vela “entre as mãos” (Cf. Lc 2,28) a luz, símbolo por excelência da manifestação de Deus. É um rito simples, mas rico de significado. Exactamente 40 dias depois do Natal, a comunidade dos crentes recorda que a “luz verdadeira” (Jo 1,9) - vinda ao mundo através da carne de Jesus Cristo - não quer ser apenas acolhida mas também restituída, para se tornar clarão “que ilumina cada homem” (Jo 1,9), lugar de salvação para todos. É um gesto que pretende imitar a atitude de Maria, a virgem que soube alargar os braços diante da irrupção de Deus no seu jovem seio, sem nunca considerar esta eleição “um privilégio” (Fil 2,6), mas sim um serviço assumido até ás extremas consequências: “uma espada de dor trespassará a tua alma” (Lc 2,35). O Evangelho ilustra a mãe de Deus exactamente assim, quando juntamente com José foi ao templo para oferecer o seu primogénito como dom “consagrado ao Senhor” (Lc 2,23), segundo aquilo que está prescrito na lei do Senhor. Neste acto de reconhecimento e de restituição, a Igreja reconhece a essência mais profunda da sua missão no mundo: acolher e oferecer o Salvador do mundo que redime a história passando através do frágil templo da nossa humanidade. Não é por acaso que neste dia a Igreja faça memória do dom da vida consagrada, a experiência de tantos homens e mulheres que, numa vida doada como e juntamente àquela de todos os irmãos e irmãs da humanidade, exprimem o desejo de uma radical dedicação ao Reino de Deus oferecendo-se aos irmãos como sinal que “pode e deve persuadir eficazmente todos os membros da Igreja a cumprir com dedicação os deveres da vida cristã” (Lumen Gentium, 44). Sabemos que a vida consagrada não se põe primariamente em relação com a estrutura jerárquica da Igreja, “todavia pertence inseparavelmente à sua vida e santidade” (LG 44). A vida consagrada é como uma chama que lembra à propria Igreja não tanto o que ela deva fazer , mas aquilo que ela é continuamente chamada a ser, antes e além de todos os empenhos assumidos: dois braços abretos que acolhem a luz da revelação de Deus e, ao mesmo tempo, a oferecem ao mundo através do testemunho de uma vida inspirada na lógica das bem-aventuranças. Assim mantém-se viva a recordação de que a “glória de Israel” (Lc 2,32) é a salvação que Deus oferece “a todos os povos” (Lc 2,31), desde o momento que Cristo decidiu ter “em comum” com a nossa humanidade “o sangue e a carne” (Heb 2,14). Por isso ele está em condições de “vir em auxílio dos que enfrentam dificuldades” (Heb 2,18) e de libertar todos nós “sujeitos à escravidão por toda a vida” (Heb 2,15)

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