sábado, 26 de janeiro de 2013

Para ti, ilustre Teófilo


                                                                                                “Para ti, ilustre Teófilo”
Lucas dedica-nos o seu Evangelho. E chama-nos Teófilo (= “amigo de Deus”)! Um nome que ainda ninguém tinha sonhado dar-nos: “Amado por Deus”! Teófilo representa todos aqueles que, em qualquer lugar e em qualquer tempo, procuram apaixonadamente a Deus.
Além disso, Lucas afirma que investigou cuidadosamente para que tivéssemos um conhecimento seguro sobre Jesus. Este não é um produto da fantasia, imaginação ou ideologia. Jesus viveu num lugar e num tempo concreto. O Evangelho não é uma recolha de “pílulas de sabedoria” para viver melhor, nem um amontoado de histórias épicas, nem um livro de histórias sagradas. O Evangelho é a história de um encontro, de uma experiência, de um amor, de um sonho realizado: o de Deus e o teu!

Deus nos caminhos de Nazaré
Jesus é o sonho de Deus realizado! Em Nazaré fecham-se os livros e abre-se a vida, passa-se do papel ao respiro, das profecias à realização.
Com Jesus é toda uma nova génese que inicia. É um amor encantado pelos pobres, opção pelos cegos, preferência pelos oprimidos. Os excluídos e os esfomeados de amor são hoje os primeiros destinatários deste novo reino.
Também eu me encontro naquela Sinagoga de Nazaré, com os olhos fixos em Jesus e com os ouvidos atentos àquela Palavra que ecoa! E aquele jovem nazareno não narra, mas vive. Não recorda as palavras do profeta Isaías, mas actualiza-as. Não diz palavras vazias, mas realiza-as. Ele é o sonho e a paixão de Deus à minha procura, pelos caminhos da vida.

“Cumpriu-se hoje mesmo”
Deus fala sempre no presente. O Evangelho não está escondido na poeira dos séculos passados, nem na utopia doentia de um futuro distante. É uma Palavra viva e actual. É o hoje extraordinário da humanidade que se encontra com Deus.
Este hoje também se dirige a mim. Somos contemporâneos de Deus! No hoje da nossa vida ressoa ainda aquela voz que quer remover as cinzas que nos oprimem. O Evangelho Jesus é um permanente convite à alegria. Não é a memória de um livro! É o milagre de uma voz que sempre espera a minha escuta para dar frutos de vida nova.
O Evangelho reclama outros evangelhos: quem escuta é transformado por aquilo que escuta; e assim a Palavra do papel se transforma em Palavra viva. Caro amigo, cara amiga, hoje, tu és semente de Evangelho!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Para que sejam um!


Hoje, sexta feira, dia 18 de Janeiro iniciamos a assim chamada Semana de Oração pela unidade dos cristãos que se prolonga até o dia 25, festa da conversão de São Paulo. Este ano o tema de reflexão e oração inspira-se no capítulo 6, versículos 6 a 8 do livro do profeta Miqueias: “O que Deus espera de nós” e foi proposto pelo Movimento de Estudantes Cristãos da Índia. Caros ouvintes, Jesus Cristo sendo um com o Pai e o Espírito Santo deixou também uma só Igreja seu corpo místico. Ora esta unidade original que o próprio Jesus quis e pediu ao Pai que no-lo concedesse foi, por causa dos nossos pecados e falta de fé destruída. Assim, hoje, os cristãos se apresentam ao mundo divididos, fragmentados fazendo sim que o seu testemunho perdesse credibilidade, fiabilidade. 
Se Cristo é um só, como é possível estarmos divididos e pior ainda de costas voltados, cada um puxando brasa para a própria sardinha. 
A divisão na Igreja, internamente e externamente, é um grande mal. Um grande pecado! Por isso é preciso fazermos hoje como fizeram os amigos do paralítico de que nos fala o Evangelho de hoje. Isto é, é preciso reforçar a nossa fé, esperança e caridade, e carregarmos sobre os nossos próprios ombros a própria Igreja pecadora para a levarmos outra vez, fintando todos os obstáculos, diante do seu Senhor que tem o poder exclusivo de perdoar os pecados. Como aliás fez o grande Santo, Francisco de Assis. 
Ora, o perdão dos pecados anda sempre ligado à Boa Nova do Reino de Deus. Aliás o perdão dos pecados é a primeira libertação de que o homem precisa para poder sair do seu círculo fechado em que o Mal o envolve e o angustia. O primeiro efeito do anúncio da Boa Nova será levar o homem, à luz da Palavra de Deus, a reconhecer-se pecador, a reconhecer o amor de Deus e a decidir-se livremente a pedir-Lhe perdão.
O Ecumenismo, isto é este esforço de unidade entre os cristãos, não é uma opção facultativa entre tantas outras actividades. É, isto sim, uma exigência do Evangelho, uma exigência radical, absoluta que vem de Deus que quer reunir todos os seus filhos dispersos. Esta exigência é hoje, mais do que nunca, uma prioridade porque nunca como este nosso tempo o apelo à unidade ressoa no coração dos filhos de Deus “guiados pelo Espírito” (Rm 8,14), com a mesma força com que ressoa o insistente convite do profeta: “convertei-vos”. Sim, o Ecumenismo, caríssimos, é um apelo. Não se trata simplesmente de encontros fraternos para os quais é necessário dar graças a Deus. Não se trata nem mesmo de actividades comuns em vista a um objectivo social entre irmãos que sabem estar divididos no essencial. Não se trata também de um debate de ideias, necessário, sobre certas divergências de interpretação. Trata-se de acolher na humildade um apelo do Espírito de Verdade. 
Infelizmente em Cabo Verde, como nos outros anos, esta ocorrência passará praticamente despercebida ou se limitará a breves referências durante as celebrações eucarísticas. O complexo de maioria nos impede de olhar para longe e de… ao menos rezarmos. 
Então mãos às obras! E como são Francisco de Assis onde houver divisão levemos a união e o amor!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Morrer servindo...


Quando ainda vivia em Itália, à tarde, nós os freis, reuníamos no coro (espaço de oração dos freis) atrás do altar principal da igreja, onde a fraternidade reza, para celebrar as vésperas (oração da tarde). Procurávamos cantar o hino e algum outro salmo e no fim o Magnificat… depois é o momento das invocações e preces e no fim destas breves orações líamos o “necrológio”: são os nomes dos freis mortos naquele determinado dia. Freis que viveram antes de nós ao longo dos séculos da nossa história de Irmãos Menores Capuchinhos. Gostava muito daquele momento: tinha em si uma certa humilde solenidade. Começava-se dizendo a data do dia corrente. Por exemplo: “no dia 15 de Outubro morreram…” Depois diz-se o ano da morte e o lugar onde o frei faleceu, logo depois se dizia a zona de origem do dito frei e no fim fazia-se menção a algumas notas da sua vida, das suas actividades, da sua doença e a causa da sua morte. Em relação aos freis do século XVII não era raro ler: “morto na assistência dos apestados” e quem conhece a história europeia desse século sabe como era espaventosa esta pandemia que arrasava famílias inteiras. Comovia-me sempre aquela frase. Levava-me a perguntar se a minha fraternidade de hoje, se eu seria capaz de tal gesto. Francisco de Assis vive, no encontro e no serviço aos leprosos, um dos momentos fundamentais da sua conversão, tanto que não só determinará uma reviravolta na sua vida mas será este, para os primeiros dez, doze anos da vida da fraternidade, um serviço contínuo. Não só. Antes do nascimento do noviciado (1220) os candidatos à esta forma de vida eram selecionados em base a apenas dois critérios: se se libertavam facilmente dos seus bens dando-os aos pobres e se aceitavam de serenamente servir os doentes da lepra. Aquele que rejeitava ou punha resistência não era considerado apto à vida fraterna. E compreende-se o porquê. São evidentes sinais de doação gratuita: manifestam uma disponibilidade não indiferente, um desejo de colocar-se em jogo seriamente, inclusive (no caso do segundo critério) no concreto do físico ferido de um homem, que como recompensa pelo mau cheiro da carne podre, oferece apenas um obrigado e às vezes nem mesmo isso. Então porque fazer isto? Uma jornalista que tinha visto Madre Teresa de Calcutá, a lavar e mudar um velho coberto de moscas e de chagas diz á religiosa: 
“Eu, madre, aquele moribundo não o tocaria nem mesmo por milhões de dólares…”. E a pequena irmã respondeu: “nem eu...”. Pois… porque o fazes? Questão de heroicidade? Por força de um super herói? Ou existe um sentido mais ordinário em tudo isto? É inútil dizer que pôr-se à disposição de quem pode comunicar-te a sua própria doença, muitas vezes mortífera, exige uma dose de coragem.
Mas o contrário de coragem não é o medo mas é a covardia. De facto, pode conviver com o medo. O covarde foge, o corajoso fica, mesmo que tenha medo da doença, do contágio, da morte. O prefácio dos mártires (a oração que o padre celebra durante a missa antes do canto do santo) reza assim: “Fazeis da nossa fragilidade o testemunho da vossa grandeza”. Está tudo dito. Francisco não era um herói e não eram os freis mortos servindo os apestados. Não, nenhum herói. Eram homens frágeis, com os próprios defeitos e virtudes como todos os mortais, com grande generosidade e medo. Gente normal. Viveram a sua vida com amor e empenho, mas também com contradições e inconsistências. Enfim… seres humanos. Mas encontraram o Senhor Jesus: tiveram a coragem de não ter medo de si mesmos e o seguiram aprendendo dele a pensar, a decidir, a agir como ele. A Pedro que disse a Jesus: “afasta-te de mim que sou um pecador” Jesus responde: “não tenhas medo: farei de ti pescador de homens”. E graças àquele sequela, próprio seguindo a palavra e as acções do Mestre, próprio contemplando de longe o seu morrer na cruz e de perto o seu ressuscitar, compreenderam que a vida está no amor como dom de si partindo das pequenas coisas, até ao serviço cheio de compaixão e misericórdia para com quem é frágil, pobre, necessitado. Mesmo a custo de sacrifícios. Se se deve, até a preço da própria vida. Como o grão de trigo, que - somente morrendo - crescerá.) Não ter medo de cair, mas ser consciente que levantando-se seremos mais fortes e seguramente em condições de decidir melhor da próxima vez. A coragem de ser sempre nós mesmos e coerentes seja em relação à própria pessoa, seja em relação á escolha feita. Nas perguntas importantes, nas perguntas que nos levam a reflectir e também naquelas que nos levam a mudar de direcção as únicas respostas válidas e que satisfazem são “sim” e “não”, tudo o resto é secundário. 

Atualidade

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É uma coisa maravilhosa mas, por exemplo, também João Paulo II foi à cadeia encontrar o seu assassino Ali Agca. Mas desta vez, aposto, ...

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