Bem aventurados NÓS!


É preciso uma certa coragem para o dizer. Passar à outra margem, esquivar o fogo e o enxofre que descem, de vez enquanto, do céu são experiências que põe a dura prova de paciência de todos. Entretanto não todos têm a liberdade de afirmar a própria incredulidade. Tomé o fez, em nome de todos. Sobretudo de quem fica - talvez por sincera devoção - pávido de espírito. 
Se a incredulidade não pode, por certo, passar por virtude, é igualmente verdade que pode tornar-se muito sagrado e precioso momento em que nós nos encontramos a passar por ela. Ao menos é isso que anuncia o evangelho de hoje. Ultrapassando as portas fechadas da comunhão ferida dos discípulos, o Senhor Jesus mostra como a sua ressurreição é uma alegria que pode - e quer - resgatar-nos de todas as separações que estejam consumando no nosso coração. Inclusive aquela que risca fazer-nos estranhos a nós mesmos e à plenitude dos nossos desejos.  
O Senhor Jesus não se deixa nunca vencer pelo temor quando procuramos barricar-nos dentro dos nossos muros de protecção e de separação que, com extrema facilidade, aprendemos a construir para evitar sermos novamente desmentidos pela vida. Ele sabe bem que cada vez que fingimos contentarmos na verdade estamos somente a escutar o nosso medo de permanecer desiludidos e frustrados. Não certamente as profundidades do nosso coração, criado para conhecer e louvar a fidelidade do Senhor que dura para sempre.  
Bem-aventurados nós, que hoje recordamos este evangelho. Nem mesmo a dor e a raiva, fundamento de toda a incredulidade, podem travar a grande força da ressurreição. Assim como - e onde - somos e podemos ser chamados ainda e sempre a crer. Não nas nossas capacidades. Mas no olhar de quem não cansa nunca de sonhar a eternidade sem nós. 


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