terça-feira, 9 de julho de 2013

A benção nocturna de Jacob

A Bíblia nos conta uma história singular. É a história da benção nocturna que Jacob recebe do homem desconhecido que lutou com ele durante toda a noite. Quando era jovem Jacob tinha conseguido enganando o seu pai Isaac a benção do primogénito, suscitando assim contra si a ira do seu irmão Esaú. Esta benção aparece aqui como algo de muito tangível, algo que não se pode dar duas vezes. Jacob está em vantagem em relação ao seu irmão Esaú. A benção do primogénito consiste no facto que agora Jacob será senhor dos seus irmãos.  
Parece que Jacob tenha conseguido todas as coisas. Volta para casa com grandes riquezas, as suas duas mulheres e muitos filhos. Mas anunciam-lhe que o seu irmão Esaú vem ao seu encontro. Então sente medo. Esaú representa a sombra de Jacob. Ele deverá enfrentar a própria sombra para que a sua vida se torne verdadeiramente uma benção. A Bíblia no lo descreve na luta nocturna com um homem obscuro que se faz reconhecer como o anjo de Deus. Os dois lutam na noite, sem que um dos dois vença. Quando surge a aurora, o anjo roga a Jacob pedindo que o deixe partir. Jacob diz: Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes (Gen 32,27). Jacob luta pela benção. Quer tanto ser abençoado por Deus que luta como se fosse uma questão de vida ou de morte. Deus em pessoa abençoa Jacob e lhe dá um novo nome: “teu nome não será mais Jacob, mas sim Israel, porque lutaste com Deus e com homens e vencestes". (Gen 32,29)
É um paradoxo que próprio aquilo que é perigoso para mim e me combate deva abençoar-me. Num primeiro momento a Jacob Deus não aparece por nada como aquele que abençoa, mas sim como aquele que coloca em discussão, que lhe obstacula a estrada. Do ponto de vista psicológico, trata-se de um encontro com a sombra. Antes que Jacob possa reconciliar-se com o irmão Esaú, deve encontrar a sombra dentro de si, a parte que mente, que é falsa, a própria mentira existencial. É exactamente o encontro com a sombra que se transforma para ele em benção. A sua vida adquire uma qualidade nova. Não só consegue reconciliar-se com o irmão mas torna-se um dos patriarcas de Israel.   

Pensamos muitas vezes que a benção de Deus está nas situações em que temos sucessos, em que tudo sai bem. A história de Jacob nos demonstra que experimentamos a benção também onde tocamos o fundo, onde encontramos dolorosamente nós mesmos, a nossa falsidade, a nossa rejeição pela vida, o nosso egoísmo sem confins. Se dizemos sim a nós mesmos como somos, até a parte fraca e falsa de nós pode transformar-se em nascente de benções. Deus não abençoa o que é perfeito, mas aquilo que é imperfeito, não o que é inteiro, mas o que está fragmentado. Através da benção de Deus o ramo cortado volta a florir e a noite de transforma em claro dia. 

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Bem aventurados NÓS!


É preciso uma certa coragem para o dizer. Passar à outra margem, esquivar o fogo e o enxofre que descem, de vez enquanto, do céu são experiências que põe a dura prova de paciência de todos. Entretanto não todos têm a liberdade de afirmar a própria incredulidade. Tomé o fez, em nome de todos. Sobretudo de quem fica - talvez por sincera devoção - pávido de espírito. 
Se a incredulidade não pode, por certo, passar por virtude, é igualmente verdade que pode tornar-se muito sagrado e precioso momento em que nós nos encontramos a passar por ela. Ao menos é isso que anuncia o evangelho de hoje. Ultrapassando as portas fechadas da comunhão ferida dos discípulos, o Senhor Jesus mostra como a sua ressurreição é uma alegria que pode - e quer - resgatar-nos de todas as separações que estejam consumando no nosso coração. Inclusive aquela que risca fazer-nos estranhos a nós mesmos e à plenitude dos nossos desejos.  
O Senhor Jesus não se deixa nunca vencer pelo temor quando procuramos barricar-nos dentro dos nossos muros de protecção e de separação que, com extrema facilidade, aprendemos a construir para evitar sermos novamente desmentidos pela vida. Ele sabe bem que cada vez que fingimos contentarmos na verdade estamos somente a escutar o nosso medo de permanecer desiludidos e frustrados. Não certamente as profundidades do nosso coração, criado para conhecer e louvar a fidelidade do Senhor que dura para sempre.  
Bem-aventurados nós, que hoje recordamos este evangelho. Nem mesmo a dor e a raiva, fundamento de toda a incredulidade, podem travar a grande força da ressurreição. Assim como - e onde - somos e podemos ser chamados ainda e sempre a crer. Não nas nossas capacidades. Mas no olhar de quem não cansa nunca de sonhar a eternidade sem nós. 


Atualidade

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É uma coisa maravilhosa mas, por exemplo, também João Paulo II foi à cadeia encontrar o seu assassino Ali Agca. Mas desta vez, aposto, ...

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