sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Conduzidos ao deserto!




“Estar no deserto, conduzido pelo Espírito”
O deserto é um lugar misterioso e intrigante, um espaço onde a sobrevivência e a morte caminham lado a lado, local de desafios e de audácia. É também o lugar onde Deus conduz os profetas para lhes falar ao coração, onde caminha com o povo hebreu partilhando a sua vida. Hoje, também as nossas cidades têm os seus desertos: o deserto da solidão e tristeza de tantos; o deserto de uma crise que avança impiedosa; o deserto de muitas perguntas sem respostas… Na verdade, basta uma quebra em Wall Street e falta o pão na nossa casa; basta uma febre e definha a saúde; basta uma união desfeita e desaparece alegria. Mas, se o Evangelho nos convida a entrar no deserto é porque – como disse Saint-Exupéry – em cada deserto há um poço, em qualquer angústia existe um rebento de ressurreição. No deserto são as estrelas que traçam a rota. Talvez ali descubramos dentro de nós a nostalgia do Céu, a liberdade desmesurada, o silêncio que permite a escuta, a luz que desmascara as trevas, a presença capaz de um encontro…

“Se és Filho de Deus”
As três tentações metem em jogo a relação filial de Jesus com o Pai, são um desafio entre dois projectos, são uma escolha entre dois amores.
As tentações são a divisão do nosso coração feito de cinzas e de luz, são um convite a alimentar-se só de pão, a contentar-se com a própria história, a viver sem sonhos, a silenciar a voz de Deus. O silêncio é então quebrado por aquela insinuação diabólica que gostaria de minar a nossa confiança no Amor: “onde está o teu Deus”? Todos sabemos que somos mendigos de pão, mas não podemos esquecer que somos também pedintes do céu e da eternidade, somos possuidores de tanta coisa mas mendicantes da beleza e do amor. O pão é bom e necessário, sacia o estômago, mas só Deus sacia a vida. Doutro modo, a existência é uma saca cheia de pedras que se tornaram pão duro e amargo de cada dia.

“Está escrito”
Nas três tentações Jesus convoca Deus ao seu lado e cada resposta é silabada e gritada com o alfabeto da Palavra de Deus: “está escrito...!”, está gravado no coração! Porque o que se escreve permanece, é promessa, é realidade! Jesus não dialoga com o Diabo, mas contrapõe sempre um amor maior: o de um Pai que nunca o abandona.
O grande engano é acreditar que o tesouro da vida esteja num naco de pão, na folia do poder ou no excesso de sucesso. O engano é acreditar que assim se pode eliminar a fome do céu e de paz. O maior engano é servir-se da vida caminhando nas palmas de anjos, sem avançar como crianças confiantes apenas na força com que nos aperta o abraço do Pai.
Mesmo quando caímos dos pináculos vazios da vida, Ele está presente. Talvez não como nós desejaríamos, mas à sua maneira. E não para evitar a queda, mas para ajudar a levantar e a continuar. E, então, fazer florescer o deserto. Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

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