sexta-feira, 27 de julho de 2012

Multiplicação do amor!




Erguendo os olhos e vendo…
Alegremo-nos, os olhos do nosso Deus vêem! É o Deus do AT que VÊ a opressão do seu povo… é mais. Como o Pai do pródigo transviado, desvenda avidamente o horizonte, os olhos divinos e humanos de Jesus, penetram a humanidade desta multidão, que peregrina desde o bulício de solidão, de dor e de desespero à procura de um santuário… o do olhar de Deus. Só o olhar de Deus refaz em nós a beleza primordial. E Ele, que busca em nós a beleza, estremece com a nossa indigência, deixa-se ferir pela nossa fome humana mais elementar! E logo, em mesa posta a céu aberto, nos convida para um banquete inesperado, onde o menu é muito mais que pão e peixes. O mundo é um banquete de milagres, não há razão para passar fome!
Mas que é isso para tanta gente?
Numa análise fria, a multidão pode aparecer como uma massa de interesseiros que segue Jesus sôfrega de milagres e, ao mesmo tempo imprudente, que nem pensa no pão para o caminho... e a atitude de Jesus surpreende: porque é que justamente um, de entre tantos, que teve juízo e preparou prudentemente um farnel, tem que abrir mão dele para alimentar quem nada fez para o “ganhar”? O seu a seu dono, dizemos, numa justiça milimétrica. Medimos tudo a quantidades e os nossos orçamentos, viciados pelo egoísmo, reagem: “que é isso para tanta gente? A minha migalha (grande ou pequena) não resolve a fome de muitos. Não vale a pena desbaratá-la inutilmente!” A nossa contabilidade recta ressente-se com esta escandalosa gratuidade e generosidade da parte de Jesus. Ele não monta ali uma registadora, nem coloca um discípulo a passar facturas. Escancara todo o seu ser, sem dosear, sem temer o abuso do dom. Deus é este mapa de liberdade nunca esquartejado por fronteiras ou por restrições selectivas; as balanças de Deus não medem à unidade, nelas só a plenitude tem peso. É na totalidade da entrega que desabrocham os milagres...
A multiplicação do amor
A partilha talvez se nos afigure como uma subtracção e isso mete-nos medo! E é mesmo subtracção se nos ficamos só ao nível do material. Mas as contas de Jesus abalam os nossos axiomas. Jesus mostra que a partilha, se é o fruto de uma entrega de amor, traduz-se em operação de multiplicação. Faz-nos falta este episódio para revermos a aritmética das nossas relações, face às pessoas e aos bens. Faz-nos falta este episódio para transfigurarmos críticas fáceis, reparos justos mas estéreis, num envolvimento rentável de entrega pessoal. 
Amigos e amigas, podemos pensar que este milagre só Deus o pode fazer, com um superpoder especial. Mas a este superpoder também nós temos acesso! O que está aqui em jogo não é a multiplicação do pão, mas a multiplicação do amor que, por seu turno, multiplica o pão, a alegria, a saciedade, a paz… E o amor não habitua mal. A fome de amor, a mais elementar das fomes, só a abundância de amor pode saciar! Só o amor multiplica e o amor multiplicado é a equação matemática do Evangelho.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Vinde e descansai!






“Vinde comigo para um lugar isolado e descansai”
Os discípulos regressam com as pernas cansadas mas com o olhar enriquecido pela partilha de sonhos e de sofrimentos, voltam com o coração saciado de pessoas e de encontros. E imagino a avalanche dos diálogos, cheios das experiências vividas de casa em casa. Eles retornam à fonte que é Jesus. Este, em vez de os reenviar logo na missão que urge, condu-los ao deserto, onde Deus fala ao coração, convida ao repouso, ao encontro no silêncio valorizando o “ser” sem se alienar no “fazer”. Ocorre saborear a vida, sem que o insucesso deprima e sem que o êxito envaideça.
Alguns até podem sentir-se indispensáveis, como se tudo dependesse deles e dos seus activismos vazios de sentido. Mas, os apóstolos sabem que não são a nascente; são simples semente escondida nas mãos do Semeador; são pequena grafia de uma Palavra que os ultrapassa.
Hoje, a vida é um frenesim e a pessoa uma peça da engrenagem da máquina do tempo que nunca pára. Aceitar parar com Jesus significa abandonar-se nos seus braços, reclinando a própria vida no seu coração. Repousar com Cristo é vencer a tentação de fugir de Deus e até de si próprio. É tempo para contemplar as maravilhas que Ele realiza em nós e através de nós! É tempo para narrar a beleza e saciar-se da presença amiga, enamorando-se da vida. É tempo de ir àquele santuário de beleza que só Deus pode acender.
“Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se”
O Evangelista fotografa, nesta frase, os olhos do Mestre e tira a radiografia do seu coração. Jesus, ao ver a multidão sem pastor, sente apertar-se-lhe a alma, deixa-se tocar no mais íntimo, onde a humanidade toca a divindade e a divindade vibra com a humanidade. Amigos, Deus comove-se! Ele também se comove por nós, como o pai pródigo no abraço ao filho mais novo ou como a mãe que se compadece nas lágrimas e sorrisos do filho.
No início da jornada Jesus tinha um programa. Contudo, está disposto a modificá-lo porque a multidão conta mais do que um calendário, porque primeiro está a ovelha perdida, porque o amor não pode esperar. A pobreza, a fome de amor, os anseios do outro… contam sempre muito mais aos ouvidos de Deus. Mesmo estando nalgum lugar isolado, o amor não faz férias, não repousa, não dá tréguas diante de alguém que estende as mãos, invocando pão e paz.
Começou a ensinar-lhes muitas coisas
Jesus não ensina teorias, mas ensina principalmente a “arte da compaixão”. Ensina a comover-se e a sentir pelo outro; ensina a beleza do amor, a brecha da misericórdia. Ocorre deixar-se comover, sem procurar desculpas, sem bloquear o milagre. Quando nos comovemos, enxertamos na nossa alma os que são motivo da nossa comoção. Com-mover-se é sempre mover-se com o outro, ao ritmo do seu coração.
O discípulo vive apaixonado de pessoas e de encontros, tem um coração insaciado de humanidade, não se cansa de partilhar os descansos de Deus, ama os silêncios que são preenchidos pela sua voz. E Jesus ensina a reconquistar o íntimo, a retomar nas mãos o tempo, a renovar o sentido e a profundidade da vida, a redescobrir o único pastor que a orienta. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

sábado, 14 de julho de 2012

Profeta Rejeitado!







“Começou a enviá-los…”
Imagino a alegria e, ao mesmo tempo, o receio de Jesus: a aula prática dos discípulos trazia a aventura de algo novo mas também o risco de erros, de se ser pouco credível, de perder-se metendo-se cada um por conta própria… Por estranho que pareça o Mestre não lhes diz o que devem falar, apenas o estilo a adoptar. Não devem convencer com palavras, mas com o testemunho de um amor recíproco. A mensagem fundamental é a própria vida, um sinal de unidade, uma semente de comunhão. Não se anuncia uma doutrina mas uma Pessoa que se faz presente na relação e amor dos discípulos.
Os apóstolos não vão sozinhos como vagabundos ou navegadores solitários em turismo, mas em comunhão com “uma só alma e um só coração”. Não por iniciativa própria mas porque enviados em nome doutro; não por interesse ou necessidade mas por amor.
“…dois a dois”
É o início de uma nova criação. Dois a dois… também no início eram dois. Ser enviado com o outro implica acolher a sua proposta, perder a própria ideia, ultrapassar os limites individuais e subjectivos. Os apóstolos são mandados na força do amigo e de uma Palavra. O equipamento fica reduzido a uma essencialidade que roça a imprudência: sem comida, dinheiro, roupa de reserva. Apenas um bastão e umas sandálias peregrinas. O bastão aguenta o caminho e o cansaço; o amigo aguenta o coração e rouba do isolamento. Não se acredita sozinho. O primeiro anúncio dos discípulos é a própria vida, um evento de amizade, uma semente de comunidade, a vitória sobre a solidão (Ronchi).
Ir com mais alguém pode ser chato e aborrecido! Pensamos ser os únicos a poder cantar fora do coro, a ser livres e criativos, a ser bons rebeldes… Tantos que se dizem “cristãos sem Igreja”, mas sem “dois ou três reunidos em nome de Jesus” não há Igreja. Falar de comunidade é fácil. Mas viver na comunidade, com aquele grupo, aquele pároco, aquele cantor, aquela zeladora,… é outra conversa!
“Quando entrardes em alguma casa…”
Os discípulos trazem em si uma escandalosa fragilidade e pobreza de meios. Estão convencidos que nenhuma pessoa é aquilo que possui. O sucesso não depende do marketing nem de aparências superficiais. O essencial encontra-se na humanidade do outro e na partilha da sua existência, ali na casa e na família onde se joga o sorriso e as lágrimas, ali onde a esperança e os dramas se cruzam, ali onde a vida nasce, se vive de amor e a solidão se converte em comunhão.
Ser Igreja é ser casa! É ser família! Os discípulo são, então, acolhidos não porque trazem coisas, mas porque trazem Cristo. Levam-se a si mesmos, como terra abençoada pelo encontro com o Ressuscitado, qual novo éden terrestre.
A única segurança do discípulo são as palavras que trocar com o companheiro do caminho, um rosto a amar e a descobrir, uma história a partilhar numa comunidade de vida, numa fé em comum, na certeza de que não se está só, mas que há sempre Alguém que caminha ao lado. Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

(escrito por: padre Caldas, Irmã Maria José e Irmã Conceição Borges)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Nós e a política!


De entre os problemas que o nosso país enfrenta ocupa, sem dúvidas, o lugar de destaque o crescente desinteresse dos nossos jovens e não só em relação à política. O degrado de certas instituições, a perda de credibilidade da classe política, os sintomas de alguma corrupção nunca apurada e condenada e nos últimos anos a acusação transversal da compra das consciências durante os actos eleitorais, são factores que concorrem para a acentuação do desinteresse que outras democracias em outras partes do mundo já conhecem, onde certos fenómenos são, ou parecem ser, menos marcantes mas onde a distância, por exemplo, dos jovens da política é a mesma ou até maior. 
Responder à esta crise de confiança fazendo apelo aos ideais ou aos valores, significa - aos olhos de muitos - tocar o ridículo, dado que - se observa - exactamente em nome dos ideais e dos valores se consumam injustiças colossais em desfavor de muitos cidadãos. Basta analisar o fenómeno (não novo mas agora crescente e desavergonhadamente disseminado) da compra de votos. 
Existe uma boa dose de verdade nesta suspeita em relação á política e aos políticos, porque muitas são as palavras e promessas pronunciadas em passado e agora nas últimas eleições e, muitas se revelaram falsas e sem fundamento e os seus actores nunca foram ou serão responsabilizados. Mas isto não justifica tout court o sistemático e preconceituoso descrédito em relação à política, que contínua a ser, apesar de tudo, uma forma eminente de serviço ao homem e de procura do bem comum. 
Deve-se, outrossim, considerar que não se pode dispensar a política e nem mesmo refugiar-se debaixo do pressuposto que os cenários da política continuam vazios. Eles estão cheios, inevitavelmente cheios, dado que uma sociedade tem necessidade de ser governada; o problema é saber se este cenário será ocupado pelos melhores ou então pelos medíocres ou maus. 
Abster-se da política, qualquer que seja a justificação, não significa acabar com ela, mas abandoná-la a outros com o risco de ulterior degeneração ou talvez aberrantes aventuras que muitos povos viveram no passado ou vivem ainda hoje em que o poder foi dado a homens que não eram dignos de exerce-lo. 
Não nos resta outra alternativa então senão redescobrir a política, ou melhor reapropriar-se dela partindo das pequenas coisas e dos problemas concretos da realidade territorial na qual estamos inseridos. Talvez seja justo desconfiar da “grande política” longe das pessoas, mas é nosso dever enquanto cristãos ocupar-se da “pequena política”, dos problemas reais dos homens que nos circundam: o trabalho, a segurança, a saúde, a habitação… Movendo a partir daqui será possível perceber o sentido da política e o quadro no qual se insere o empenho pelo trabalho e pela segurança, pela saúde e pela habitação. Às pessoas individuais é possível intervir num primeiro nível; mas a um nível mais elevado, aquele que toca às instituições, pode-se operar somente se se junta aos outros. Podemos chamar esses agrupamentos de movimentos ou partidos, mas este estar juntos para projectar e procurar construir uma sociedade melhor é uma passagem indispensável para aqueles que querem colocar-se ao serviço do bem comum. 
Eis porque é necessário que tenhamos sempre jovens e menos jovens disponíveis para se empenharem no âmbito político com generosidade, com desinteresse, com dedicação; sabendo que a política não é tudo, mas que também é importante e que vale a pena dedica-la uma parte do próprio tempo e, se necessário, da própria vida. 
É neste sentido também a política é uma vocação,  entre as altas e mais nobres. Que alguns não estejam á altura desta missão não justifica o descrédito da política. Pelo contrário exige que surge de entre os cristãos quem mais dignamente saiba ocupar o lugar daqueles que, espontaneamente ou não abandonado um espaço malmente ocupado. 
Infelizmente, nós os cristãos em Cabo Verde, com o nosso incompreensível silêncio, não temos ajudado a formar consciências neste sentido. Estamos mais preocupados com a nossa sacristia como quem diz: “isto de política não é connosco”, esquecendo-se porém que, parafraseando o poeta francês J. Renard, não ocupar-se seriamente da política é como não ocupar-se da vida, não ocupar-se dos homens.             

Atualidade

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