sexta-feira, 20 de julho de 2012

Vinde e descansai!






“Vinde comigo para um lugar isolado e descansai”
Os discípulos regressam com as pernas cansadas mas com o olhar enriquecido pela partilha de sonhos e de sofrimentos, voltam com o coração saciado de pessoas e de encontros. E imagino a avalanche dos diálogos, cheios das experiências vividas de casa em casa. Eles retornam à fonte que é Jesus. Este, em vez de os reenviar logo na missão que urge, condu-los ao deserto, onde Deus fala ao coração, convida ao repouso, ao encontro no silêncio valorizando o “ser” sem se alienar no “fazer”. Ocorre saborear a vida, sem que o insucesso deprima e sem que o êxito envaideça.
Alguns até podem sentir-se indispensáveis, como se tudo dependesse deles e dos seus activismos vazios de sentido. Mas, os apóstolos sabem que não são a nascente; são simples semente escondida nas mãos do Semeador; são pequena grafia de uma Palavra que os ultrapassa.
Hoje, a vida é um frenesim e a pessoa uma peça da engrenagem da máquina do tempo que nunca pára. Aceitar parar com Jesus significa abandonar-se nos seus braços, reclinando a própria vida no seu coração. Repousar com Cristo é vencer a tentação de fugir de Deus e até de si próprio. É tempo para contemplar as maravilhas que Ele realiza em nós e através de nós! É tempo para narrar a beleza e saciar-se da presença amiga, enamorando-se da vida. É tempo de ir àquele santuário de beleza que só Deus pode acender.
“Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se”
O Evangelista fotografa, nesta frase, os olhos do Mestre e tira a radiografia do seu coração. Jesus, ao ver a multidão sem pastor, sente apertar-se-lhe a alma, deixa-se tocar no mais íntimo, onde a humanidade toca a divindade e a divindade vibra com a humanidade. Amigos, Deus comove-se! Ele também se comove por nós, como o pai pródigo no abraço ao filho mais novo ou como a mãe que se compadece nas lágrimas e sorrisos do filho.
No início da jornada Jesus tinha um programa. Contudo, está disposto a modificá-lo porque a multidão conta mais do que um calendário, porque primeiro está a ovelha perdida, porque o amor não pode esperar. A pobreza, a fome de amor, os anseios do outro… contam sempre muito mais aos ouvidos de Deus. Mesmo estando nalgum lugar isolado, o amor não faz férias, não repousa, não dá tréguas diante de alguém que estende as mãos, invocando pão e paz.
Começou a ensinar-lhes muitas coisas
Jesus não ensina teorias, mas ensina principalmente a “arte da compaixão”. Ensina a comover-se e a sentir pelo outro; ensina a beleza do amor, a brecha da misericórdia. Ocorre deixar-se comover, sem procurar desculpas, sem bloquear o milagre. Quando nos comovemos, enxertamos na nossa alma os que são motivo da nossa comoção. Com-mover-se é sempre mover-se com o outro, ao ritmo do seu coração.
O discípulo vive apaixonado de pessoas e de encontros, tem um coração insaciado de humanidade, não se cansa de partilhar os descansos de Deus, ama os silêncios que são preenchidos pela sua voz. E Jesus ensina a reconquistar o íntimo, a retomar nas mãos o tempo, a renovar o sentido e a profundidade da vida, a redescobrir o único pastor que a orienta. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

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