quinta-feira, 3 de maio de 2012

Isto nos bastaria!


Durante a festa de Páscoa, os hebreus à mesa para a celebração de haggadah - o solene memorial da salvação de Israel - geralmente cantam um hino cujo refrão põe nos lábios de todos os presentes as palavras dayyenu, que em hebraico significam: “suficiente para nós”. O texto deste hino passa em revista todas as grandes obras que Deus realizou em favor do seu povo ao longo dos séculos: a saída do Egipto, o caminho do deserto, o dom da Lei, a herança da Terra. E, em correspondência de cada obra de Deus, cada um responde cantando dayyenu, “isto nos bastaria”. Trata-se de um canto de origem medieval, do qual, porém, encontramos, no Evangelho escolhido para a festa de hoje, uma curiosa antecipação no pedido que o Apóstolo Filipe apresenta a Jesus: “Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta” (Jo 14, 8). O pedido de Filipe, o Apóstolo que hoje festejamos juntamente com Tiago de Alfeo, chamado o menor, nos oferece uma imagem palpável daquele desejo presente no coração de cada discípulo que, entrando em contacto com a fascinante relação que Jesus vive com Deus, compreende quanto o conhecimento do Pai seja a “verdade” indispensável à vida. As perguntas, absolutamente não retóricas, através das quais responde são um convite a não procurar o rosto de Deus longe daquela autêntica mansidão com que decidiu manifestar-se na humanidade de Jesus: “há tanto tempo estou convosco e tu ainda não me conheces Filipe? Como podes dizer: ‘mostra-nos o Pai?’ não acreditas que eu sou no Pai e o Pai é em mim?” (Jo 14, 9-10) 
Existe em nós uma forte pretensão de ter ulteriores sinais e confirmações do bem que Deus - como pai - nutre em relação a nós. Por causa desta expectativa, rejeitamos acolher tantas ocasiões como suficiente apelo a entrar na vida adulta dos filhos de Deus, não conseguindo intuir que o momento de autenticar a esperança do Evangelho é exactamente o tempo presente. O segredo que une o Filho ao Pai e o Pai ao Filho é o mistério de uma relação paritário, embora marcada por uma irreduzível diferença: “crer em mim: eu sou no Pai e o Pai é em mim” (Jo 14, 11). Mesmo aos apóstolos o Senhor Jesus fez um convite a não ficarem confinados dentro as determinações e as tiranas da infância: “Em verdade, em verdade vos digo: “Quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço e fará obras ainda maiores,porque Eu vou para o Pai.”  (Jo 14, 12). Não é possível olhar o rosto do Pai sem acolher o dinamismo da sua mesma vida. A paternidade de Deus não é a última confirmação com que nos protegemos dos riscos da existência, mas a definitiva decisão em crescer “até ao homem perfeito, até chegar à medida da plenitude de Cristo” (Ef 4, 13), para tornarmos criaturas livres de receber e de restituir o dom da vida.
Enfim… a nós podia ser suficiente ser “salvos” dos nossos pecados (1Cor 15,1), tornando-nos filhos de Pai e irmãos de cada homem. Mas a Deus isto não era suficiente quis fazer-nos “luz das nações” (Is 49,6) para levar a caminho do Evangelho “até aos confins da terra” (Is 49,6), a sua palavra de salvação até “aos confins do mundo” (cf. Salmo responsorial). 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Atualidade

O carinho do Papa Francisco que irrita muitos padres

É uma coisa maravilhosa mas, por exemplo, também João Paulo II foi à cadeia encontrar o seu assassino Ali Agca. Mas desta vez, aposto, ...

Aqui escreves TU