Segundo as Escrituras!

Do desespero até à fé Os dois discípulos de Emaús caminham amargurados e decepcionados. Abandonam Jerusalém e ali deixam os sonhos e as esperanças Com o coração ainda acampado no calvário são incapazes de acolher a alegria transbordante da Páscoa. Enquanto caminham um desconhecido junta-se a eles. Quando tudo parece falir, Jesus faz-se companheiro de viagem, acolhendo as confidências, na partilha da vida, da palavra e do pão. Quem de nós não se encontrou um dia sobre a estrada de Emaús, com o coração cheio de questões e de esperanças desiludidas? Quantas vezes não pensamos que o Senhor fica retido nos sacrários e que caminhamos sozinhos no mundo? Ainda hoje, quando sobre a nossa fé desce a noite, os passos de Jesus metem-se nos rastos da humanidade, dentro do pó da estrada, e ao ritmo do seu coração. O problema não é a ausência de Deus, mas é a incapacidade em reconhecê-lo; é a miopia que concentra tudo sobre nós próprios, sobre os nossos problemas. Caminho de palavra e de pão Caminhar juntos permite desfolhar as páginas densas da vida com um novo significado. Se a palavra amiga muda o coração, o pão partilhado muda o olhar dos discípulos que reconhecem Jesus no partir do pão. É este o seu estilo; é este o sinal da sua presença como corpo partido e dado, vida doada para alimentar a vida. Todo o caminho de Emaús é uma liturgia de esperança: faz descobrir o fio de ouro dentro das malhas do mundo; revela a presença silenciosa e escondida de quem nunca nos abandona; é capaz de despertar o dom de um coração aceso, apto a ver o amigo. Emaús obriga a repartir, como se a noite já não fosse noite. O triste caminhar torna-se então alegre corrida com o sol dentro da vida: não há mais noite, nem cansaço, nem tristeza. “Não ardia cá dentro o nosso coração?” Esta é a eterna interrogação do homem. Na verdade, desde a saída de Jerusalém até ao regresso, não mudam os factos ou as palavras, muda é o coração dos discípulos. Para reconhecer Jesus não basta conhecer as Escrituras, não basta caminhar com o outro, não basta repetir mecanicamente os gestos da última ceia, se em tudo faltar o ardor do amor. Sem amor é impossível ver Jesus e o outro. Só o amor conhece! Só amor vê e encontra! É sobre Jesus que os dois discípulos falam; é por causa dele que estão desiludidos e desconsolados. Mas só quando Ele lhes fala, é que arde o coração. Só uma vida acesa, na partilha dos irmãos, é capaz de incendiar as trevas e desilusões. Ter um coração ardente é o dom precioso de Emaús! E isso, caros amigos, é Evangelho!

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