quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Regressar!


Com o rito da imposição das cinzas os cristão dão início ao tempo da Quaresma. Entrámos num tempo especial para permitir ao Espírito Santo, recebido no nosso Baptismo, converter ao Evangelho os passos da nossa vida. Ao início deste tempo, não está uma nossa iniciativa, mas a indestrutível  vontade que Deus tem em encontrar-nos ainda. As cinzas marcam o início de quarenta dias, um momento favorável para voltar a Deus e a nós mesmos, como diz a voz do profeta Joel: “Mas agora, diz o Senhor, convertei-vos a mim de todo o vosso coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos. Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes, convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia”. (Jl 2,12-13)
A conversão, segundo o evangelho, não é um intenso esforço que somos chamados a fazer para apagar as asneiras da nossa vida. Aliás, muitos perfecionamentos da nossa humanidade são até contraproducentes, quando os fazemos para sermos vistos pelos outros numa luz melhor. Trata-se de um mau hábito que o Mestre Jesus no Evangelho deplora abertamente: “Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu” (Mt 6,1).
A conversão se desenvolve, pelo contrário, a partir de uma nossa disponibilidade a deixar-se “reconciliar com Deus” (2Cor 5, 20), e portanto a recomeçar a tecer o fio precioso da nossa humanidade na sua companhia. No segredo do nosso coração, no profundo da nossa verdade, o Pai espera encontrar-nos, na medida em que somos dispostos a reconhecer-nos pecadores, admitindo com sinceridade que somos um coração meio vazio, um misterioso caos de onde, às vezes, sai o mal. Senão ressoam sem efeito as maravilhosas palavras do Apóstolo que dizem quanto o amor precede e acompanha o nosso caminho: “Aquele que não havia conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nos tornássemos, nele, justiça de Deus” (2Cor 5,21). Portanto mais do que uma conversão moralista, próprio de uma religião moralizada e asfixiante, trata-se de uma conversão teológica. Isto é, uma conversão que toca antes de tudo o nosso modo de pensar Deus e o nosso modo de tecer relações com ele. Só num segundo momento nos é pedido um passo em frente e uma consequente conversão moral. Bom caminho para todos.

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