À tua palavra lançarei as redes!

O que será que pensou Pedro, à beira do lago, quando a voz daquele Mestre desconhecido o convidava a fazer-se ao largo para recomeçar a pescar? Como podia ser possível tudo isto, depois de uma inteira jornada de trabalho terminada mal? Talvez o tenha considerado um tolo, ou talvez, um ingénuo. O Evangelho de hoje nada diz, e ainda bem! Porque o que realmente conta é que Pedro confiou de imediato, não ficou na sua comodidade de quem olha de longe, de quem espera compreender tudo com antecedência, antes de decidir, de quem não risca, de quem não toma decisões com medo de comprometer-se. Não! Pedro corresponde ao convite, não certo porque compreendeu tudo, nem porque se sentia invencível, mas apenas e exclusivamente porque aquela Palavra não era como as outras e, mais do que todas as outras, tinha tocado as cordas do seu desejo, entristecido daquele trabalho quotidiano concluído com desilusão. Aquela voz tinha (re)despertado no coração do pescador a expectativa de uma pesca maior, de uma viagem através a qual pode curar-se de uma existência que se tornou improvisamente vazia e priva de sentido.
Quanto deverá viajar Pedro desde aquele dia atrás do seu Mestre para tornar-se realmente um discípulo! Quantas vezes deverá experimentar os próprios limites e juntamente o olhar pungente do seu Senhor que todas as voltas o salvará das tempestades, fixa-o nos olhos e lhe perdoará pelos seus pequenos ou  grandes traições! Mas no entanto tudo começou com aquele inicial confiança, que permite a aventura estupenda e sempre nova que é ser discípulo de Jesus, até partilhar a morte e a Ressurreição. Como aconteceu aquele dia no lago, assim acontece com todas as vocações, porque assim se entra na vida. Se tu te defendes e ficas à janela ficarás sozinho, na praia e com as tuas redes vazias; se correspondes com todo o teu ser àquela Palavra, estás já em viagem, fizeste já ao largo e então deixaste um espaço para que um Outro possa cruzar contigo uma história de liberdade e de amor.
A Igreja é um lugar e um tempo onde se aprende e se exercita este segredo, descobrindo que próprio sobre aquela Palavra – e sobre nenhuma outra- é possível jogar inteiramente a própria vida no serviço transparente e apaixonado à feliz notícia de Jesus Ressuscitado na minoridade, na fraternidade na paz e no bem! 


Frei Gilson Frede  

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