Senhor, fazei de mim um instrumento da tua Paz!



Nove anos atrás, quando, num dia como este, acontecera o ataque por parte da Al Qaeda às Torres gémeas e ao Pentagono nos Estados Unidos da América eu participava a um acampamento vocacional na ilha Brava e preparava para ingressar no aspirantado capuchinho em São Vicente, o que viria a acontecer no dia 16 de Setembro. 
Quando o frei que nos acompanhava no acampamento deu-nos a notícia do atentado confesso que não intuí a dramaticidade do evento e, como viria a condicionar a história nos anos que se seguiram. Não intuí na altura a seriedade da questão porque nem sequer sabia quem era Bin Laden ou Al Qaeda. Não podia imaginar que alguém fosse capaz de morrer para matar tantos inocentes de uma só vez. Não entrava na minha lógica de jovem e de cristão. 
Mas acabei por perceber quanta dor e, porque não, quanto rancor, nasce no peito de quem perdeu pai, mãe, irmão ou irmã , namorado o mesmo um amigo. Sim porque o ódio gera ódio ainda mais feroz. 
Nove anos depois, após entender muito bem que o mundo é dramático e muitas vezes injusto, esta manhã, ainda preocupado, sem saber qual teria sido a decisão final do Rev. Terry Jones, que enfurecido com a ideia de construir uma grande mesquita nas imediações da zona do terrível ataque, pensou e ameaçou queimar cópias do alcorão, rezei a oração da paz. "Senhor, fazei de mim um instrumento da tua paz!" Esta belíssima oração atribuída a Francisco de Assis é um compromisso a que os cristãos não deviam subtrair-se. A paz é possível apenas se nos comprometemos seriamente a sermos protagonistas de uma nova era. O ponto de partida, certamente, é o nosso próprio coração que precisa se converter à lógica de Jesus. 
Nós que ainda ousamos esperar que a paz e sã convivência entre os povos e religiões são possíveis não poupemos esforços na sua busca. Mas, sobretudo não poupemos preces a Jesus Cristo que do alto da sua Cruz nos ensina a lógica do amor que é a lógica do grão de trigo e morre para não ficar sozinho.
Vos deixo uma paráfrase da oração da paz feita por Frei Lopes Morgado, capuchinho português:
Senhor, eu quero ser um instrumento da vossa paz que o mundo não conhece.
Por obras, por palavra e pensamento, seja paz no meu canto e minha prece.
Se o ódio for minando a comunhão à sombra da bandeira do terror erguendo baluartes e fontreiras, que eu saiba difundir o teu amor.
Se a ferida em carne viva reacender a ofensa, na lareira da memória, que eu leve o teu perdão aos inimigos da cruz, como proposta de vitória. 
Se o verme da discórdia corroer a paz entre famílias e nações, 
que eu faça, no respeito das diferenças, de novo a união dos corações. 
Se a dúvida toldar o azul do espírito, qual nuvem traiçoeira de verão, que a minha consiga dissipá-la e o sol brilhe de novo em meu irmão.
Se o erro, com ardis bem simulados, levar a inteligência de vencida , que eu mostre, sem temor, a tua verdade por essa inteligência apetecida.
Se as vagas do mais negro desespero se erguerem numa vida amargurada, que eu possa dominá-las com a esperança qual nau pelo farol reconquistada.
Se as trevas do pecado, a dor e a guerra negarem o sinal da tua cruz, que eu grite, bem ao cimo dos escombros, a vida que a tua morte deu à luz.
Ó Mestre, se eu pedir que me consoles, ensina-me, primeiro, a consolar, se um dia te pedir que me compreendas, ensina-me, primeiro, a compreender, se acaso for pedir-te que me ames, concede que eu, primeiro, saiba amar.
Liberto de mim mesmo, reconheça: que dando-me que eu estou a receber, que sendo compassivo e perdoando é que eu também por ti sou perdoado; e só perdendo, enfim, a minha vida, é que eu eternamente a vou ganhar. 

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