quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Nada te é impossível!

Escutando as leituras do livro de Job que a liturgia nos tem vindo a propor nestes dias, leituras, bem ,como o livro, que abordam a difícil questão do mal. Livro e leituras de extraordinária beleza e dramaticidade.  
Escutando e meditando essas leituras tenho recordado na minha oração tantas pessoas provadas pelo sofrimento e pela dor que pedem a minha oração e a da minha fraternidade. Dizem: “Reze por mim porque a si Deus escutará” ou “reze pelo meu filho tu que estás mais perto de Deus.” Muitas vezes são casos realmente dramáticos. Eu na minha miséria de frade respondo quase sempre, quando as circunstancias o permitem: “Reze você também e verá que Deus nos escutará e que é tanto perto de mim quanto de si.” Sim, porque a oração, nas suas diversas formas, pertence a todo o crente não é apanágio de ninguém e Deus escuta com a mesma docilidade e prontidão todos os seus filhos que na humildade e simplicidade o imploram. Aliás a última parte do Livro de Job demonstra com inegável clareza isso mesmo. 
Muitas vezes o risco que corremos é aquele de criar grandes sistemas teóricos e filosóficos sobre a dor, o mal e o sofrimento. Estes sistemas mantêm-se de pé enquanto estivermos no alto do púlpito  a pregar para os outros mas quando toca a nós enfrentar situações difíceis somos os primeiros a blasfemar contra Deus e a esquecer todo o edifício por nós criado. 
Quantas vezes desejei ter no momento, soluções para tantos problemas com que muitas pessoas me se apresentam. Problemas tanto de ordem física quanto de ordem moral e psicológica. Felizmente pouco a pouco estou a aprender, como Job, que a mim compete fazer silêncio e diante do Altar da vida oferecer toda a minha vida e a vida dos que se confiam à minha pobre oração. 
Tenho a plena consciência de que, como canta o padre Zezinho, é muito jovem a minha oração, talvez não tenha a maturidade mas tem a verdade do meu coração, do meu coração de jovem cristão. 
A frequentação da Cruz, como Maria, nos ensinará a compreender um bocadinho sobre o valor (se é que podemos falar de valor) do sofrimento. Aquele modo de encarar a dor e o abandono mantendo firme a confiança em Deus é para nós de grande consolação. 
Eu continuo, como é o meu dever, a rezar e como Job posso dizer: “sei que podes tudo e que nada te é impossível. Quem é que obscurece assim os desígnio divino, com palavras sem sentido? De facto eu falei de coisas que não entendia, de maravilhas que superavam o meu saber. Eu dizia: ‘escuta-me deixa-me falar! Vou interrogar-te e tu me responderás.’ Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti, mas agora vêem-te os meus próprios olhos. Por isso retracto-me e faço penitência, cobrindo-me de pó e de cinza.”

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A riqueza que cega!



Eis ainda uma parábola sobre a má riqueza. Notemos, em primeiro lugar, que é a única parábola em que Jesus dá um nome a um dos protagonistas da história que inventa. O pobre chama-se Lázaro. Este nome, em hebraico, significa “Deus socorreu”. É bem isto que Jesus fez pelo seu amigo. O rico, esse, é descrito com todo o fausto que o rodeava: vestidos luxuosos, festins sumptuosos e quotidianos. Mas não tem nome. Ele é “o rico”. Aos olhos de Deus, os que ocupam o primeiro lugar são os pobres. Vamos mais longe. Uma frase é central no relato: “Lázaro bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas”. Uma frase muito próxima da parábola do filho pródigo, quando o filho mais novo lamenta não poder comer as bolotas dos porcos. O filho mais novo simboliza, sem dúvida, o homem pecador fechado na sua solidão. O pobre Lázaro, esse, é vítima do pecado do rico, mas o resultado é o mesmo: não são vistos por ninguém. Ninguém lhes dá atenção. Só os cães vêm lamber as chagas do pobre. Temos aí uma descrição muito realista do que são muitas vezes as nossas relações. “O rico” é um nome anónimo. As nossas relações não são muitas vezes anónimas? Mesmo com os nossos mais próximos, não acontece, por vezes, que não os vemos verdadeiramente, a ponto de esquecer simplesmente de lhes dizer bom dia, de estar atentos a eles. A indiferença é verdadeiramente um pecado que pode matar. Nomeando o pobre Lázaro, Jesus recorda-nos, ao contrário, que, para Ele e para o seu Pai, cada ser humano é olhado como único. Jesus veio compensar o olhar vazio e anónimo do rico. Veio socorrer todos os pobres – é o sentido do nome de Lázaro! Mais ainda que Moisés e os profetas, é Jesus que devemos escutar, para agir como Ele. (www.dehonianos.org)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Irmãos felizes!

O primeiro livro que os Capuchinhos da minha Paróquia ofereceram-me quando manifestei o desejo de fazer-me frade como eles tinha este belíssimo título: "Irmãos felizes." O livro narrava muito simpaticamente a vida de todos os santos e beatos capuchinhos. O frei que ofereceu-me o livro simplesmente disse-me: "assim começas a conhecer a nossa vida." Li aquele livro num instante e gostei imensamente. Depois de iniciar o caminho formativo entre os irmãos capuchinhos tive ocasião di reler aquele livro e ainda o tenho conservado comigo. Depois de já professo entendi a ousadia dos frades da minha Paróquia que na altura acolheram-me. Eles apresentaram-me como projecto de vida a santidade. Ser capuchinho é entrar no dinamismo da santidade, é ser um irmão feliz! 
já manifestei várias vezes a minha gratidão pelos irmãos capuchinhos de Cabo Verde e pelos nossos missionários, que encarnados na nossa sociedade e na nossa Igreja souberam testemunhar a beleza de um carisma que tem a Cruz no centro da sua espiritualidade. 
Anos atrás, depois da canonização de um frade capuchinho, no momento da audiência dos frades com o Santo Padre João Paulo II, este entrou na sala da audiência com o indicador apontado para o nosso ministro geral em tom de acusação dizendo:  "Dizem que vós, os capuchinhos, sois pobres. Não é verdade." Fez uma pausa e na sala criou-se um certo embaraço quando o Papa acrescentou: "sois riquíssimos: vós tendes santos."
É verdade, a nossa riqueza são os "irmãos felizes" que com as suas vidas na simplicidade, na alegria, na paz e no bem iluminam o nosso caminho fraterno e nos ajudam a enfrentar os novos desafios com determinação e alegria e a sermos também nós "irmãos felizes."
Hoje celebramos São Pio de Pietrelcina (1887-1968). Homem das bem-aventuranças evangélicas, apóstolo do confessionário e da misericordia de Deus. Frei Pio faz parte desta longa lista de "irmãos felizes" a que todos somos chamados a fazer parte. 


Para conhecer os santos e beatos capuchinhos clique aqui

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Prefiro a misericórdia!


Existem pessoas que, independentemente do seu valor pessoal, não nos são simpáticas simplesmente pela sua profissão ou pela categoria a que pertencem.
Mateus, cuja festa hoje celebramos, era uma delas. Com uma definição moderada, diríamos que era um financeiro (esta categoria nos é ainda menos simpática depois da ultima grande crise financiaria e económica que afectou-nos a todos), que se sentava no no seu banco de trabalho impondo e recolhendo os impostos e talvez extorquindo impostos e taxas aos seus concidadãos. Essas pessoas ou categorias mesmo quando fazem o seu trabalho honestamente, sua presença é sempre perturbadora.
A Mateus, cobrador de impostos, Jesus chama e em tom de comando diz-lhe: "Siga-me e ele se levantou e o seguiu”.
Ao banquete que se segue podemos encontrar, juntamente com os publicanos e pecadores, Jesus e seus discípulos. Isto era motivo de admiração e de escândalo para os falsos puritanos: sentar à mesa com certas categorias de pessoas significava ficar contaminado e contrair graves impurezas. Para Jesus, porém, é uma ocasião propícia para mostrar aos homens os objectivos mais importantes da sua missão, para revelar a infinita misericórdia do Pai, e dar a conhecer o sua predilecção pelos mais distantes, para os mais necessitados de perdão. Ele que ouve e lê no segredo dos corações resume assim a sua mensagem: "não são os que têm saúde que precisam de médico mas sim os doentes. Ide aprender o que significa: prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque eu não vim chamar os justos, mas os pecadores."
Eis como nos é apresentado o significado profundo da participação à mesa de Cristo: a sua comida não são os manjares que enchem a mesa mas sim o cumprimento de sua missão, que o leva a mergulhar-se no labirinto do pecado para conduzir os pecadores à conversão.
Comer com os pecadores significa ainda não sentir aversão do mal deles, mas querer curvar-se com amor sobre as suas chagas para as curar com o remédio da misericórdia.
Este quadro nos leva a pensar uma famosa ceia quando Cristo, para alcançar e reinar no coração do homem, deu si mesmo como comida e bebida de salvação. Esta é e deve continuar ser a mesa da Igreja onde se sentam tanto os pecadores quanto os santos, onde para todos e em abundância está Cristo que cura e renova, que espalha perdão e amor para todos. Esta é ainda a missão de todos os Ministros do Senhor: ser médicos de almas, testemunhas da misericórdia para todos.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Determinação e astucia pelo Reino!


Eis Jesus que se põe a dissertar sobre a economia, mas uma economia que parece envolver falsários... Como compreender tal parábola na boca de Jesus? Podemos logo pensar que Ele não quer dar o administrador desonesto como exemplo, mesmo se o mestre deste faz o seu elogio. Jesus chama-o explicitamente “administrador desonesto, com esperteza”. Jesus conhece o coração do homem, um coração perverso. Mas Jesus não fica nesta dimensão do coração do homem. Ele sabe que em todo o homem, por mais pervertido que seja, há sempre um cantinho positivo. Ele vê a prova de habilidade do administrador para conseguir se safar. Esta habilidade é colocada ao serviço de um mal. Mas, em si mesma, pode ser posta ao serviço do bem. Então, diz Jesus, se vós, meus discípulos, que sois chamados “filhos da luz”, sabeis ser tão habilidosos a respeito da vossa vida cristã, quantas coisas poderão mudar! Jesus aproveita para recordar o seu ensino constante sobre o dinheiro e a riqueza material. Não podemos viver sem dinheiro. Mas saibamos utilizá-lo com habilidade, para o bem. Que ele não se torne um mestre tirânico. Saibamos utilizá-lo, não para nos enriquecermos egoisticamente, mas para o pôr ao serviço do bem dos outros, a começar pelos mais pobres. Aqui, a nossa habilidade deve estar ao serviço do bem! Não levaremos dinheiro no nosso caixão. Mas o bem que com ele tivermos feito seguirá para além da morte, “nas moradas eternas”. A lição continua sempre válida hoje!(www.dehonianos.org)

Aquele excessivo amor!

Sabemos que Francisco celebrava várias Quaresmas durante o ano. Eram sempre momentos de grande oração e recolhimento. Momentos inteiramente dedicados a Deus. Uma destas quaresmas, a de S. Miguel Arcanjo de 1222 no cimo do Monte Alverne, Francisco viveu uma experiência singular e determinante: foram-lhe impressas as chagas de Cristo crucificado. 
Numa sua carta circular o ex-Ministro Geral dos capuchinhos, frei John Corriveau, actual bispo de Nelson, Canada fazia esta reflexão:   
“A cruz de Jesus envolve Francisco desde os primeiros momentos da conversão até quando desce do Alverne, ícone do Crucificado. Ele encarnou as palavras de São Paulo: “Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo” (Gl 6,14).
Francisco foi transformado pela compaixão do Crucificado. No Alverne rezou: “Que eu sinta no meu coração... aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para voluntariamente suportar uma tal paixão por nós pecadores” (Fior – Terceira consideração dos sacrossantos estigmas). “Aquele excessivo amor” impulsionou Francisco ao abraço do leproso e mudou para sempre a sua relação com os outros: “E enquanto me retirava deles, justamente o que antes me parecia amargo se me converteu em doçura da alma e do corpo” (Test 1,3). “Aquele excessivo amor” do Crucifixo de São Damião transformou o seu modo de ser: “Entrou para rezar... e... sentiu-se diferente do que tinha entrado... nem ele mesmo conseguiu exprimir a sensação inefável que teve” (2C 6,10). Essas experiências mudaram o coração de Francisco. Falando dos leprosos, Francisco declara: “E o Senhor mesmo me conduziu entre eles (os leprosos) e eu tive misericórdia com eles” (Test 1,2). Celano, referindo-se a São Damião, diz: “Desde essa época, domina-o enorme compaixão pelo Crucificado” (2C 6,10). 
Boaventura vê Francisco, transformado pelo amor cheio de compaixão, como a imagem e o ícone da humanidade redimida. E usa palavras poéticas para descrever esse afeto em Francisco: “O verdadeiro amor de Cristo transformara o amante na própria imagem do amado” (LM 13,5). E serve-se da imagem do Monte Sinai para apresentar a humanidade transformada de Francisco como uma nova revelação de Deus:
“Francisco desceu do monte trazendo em si a imagem do Crucificado, não porém esculpida em tábuas de pedra ou de madeira por mão de algum artífice, mas marcada em sua carne pelo dedo de Deus vivo” (LM 13,5).
“Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus” (Fl 2,5). Introduzindo com essas palavras o seu esplêndido hino cristológico, Paulo indica que “a obediência da cruz” não foi somente a missão de Jesus, mas é aquilo que todos devem cumprir para alcançar a plenitude da vida cristã. Somos chamados a ser vasos de amor cheio de compaixão. Esta e a mensagem da “teologia da vida” de Francisco de Assis. A “efígie do Crucificado” da qual falava Boaventura era algo mais que os sinais que Francisco carregava no seu corpo. Francisco trazia no coração o amor cheio de compaixão do Crucificado:
Crucificado agora com Cristo em sua carne e em seu espírito, ardia Francisco como ele de um amor seráfico por Deus e como ele tinha sede da salvação dos homens... Sentia, além disso, um intenso desejo de voltar aos inícios de sua vida humilde para consagrar-se outra vez ao serviço dos leprosos” (LM 14,1)".

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

São perdoados os teus muitos pecados, porque muito amaste!

Quanto amor naquele gesto. E quanta consciência do próprio pecado. Não ousa sequer olhar o seu rosto, bastam os pés do Mestre para dizer-nos quem somos e quem é Deus. Pés que recolheram as poeiras da nossa frágil humanidade, pés sujos da nossa soberba argila, pés pregados pelo nosso pecado à misericórdia de Deus, eternamente. Pés feridos, pés que esperam de ser banhados pelo precioso perfume do nosso arrependimento, do nosso amor que implora perdão. “São perdoados os teus muitos pecados porque muito amaste”, os corações pequenos não entendem. “Se fosse um profeta saberia...”: ele sabe, mais que todos sabe. Mais de Simão sabe a medida do coração de Deus. Mais que ela, a pecadora, sabe quanto é grande o mal que a habita. Mais do que ela sabe quanto perfume de perdão daquele momento em diante banhará a sua vida, e a nossa. Ele sabe, e por isso diz: vai em paz! 

Clica aqui para ver o video sobre este episodio

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Aos pés da Cruz!

Muitas pessoas presenciaram curiosos a crucifixão de Cristo no alto do Calvário.  São muitos os que assistiam atónitos ao suplício de um homem inocente. mas, são poucos os que ficaram aos pés da cruz: a mãe de Jesus; a irmã de Maria de Nazaré, Maria de Cleofas e Maria de Magdala, e nos assegura mais a frente o evangelista que perto da mãe estava também o discípulo amado de Jesus. Um pequeno grupo de pessoas. Somente um pequeno grupo de fidelíssimos têm a coragem de não fugir e testemunhar a própria fé Nele. Somente poucos audazes, juntamente com Maria têm a coragem de suportar com Cristo a dor e o sofrimento por uma morte injusta. Hoje, na Solenidade da Virgem das Dores somos chamados a contemplar Jesus no maior gesto de obediência da sua história. Somos chamados a olhar para Cristo e o mistério da nossa salvação, através do olhar da Mãe. 
Contemplar este drama na vida da família de Nazaré, o último evento que Maria vive com o Filho, é quase entrar nos sentimentos de uma mãe com um filho… um olhar; uma palavra; um silêncio; um estar em pé, fixo, diante de eventos chocantes… e, no fim repetir ainda, de modo tácito, a própria adesão a um Projecto maior: a Salvação da Humanidade. 
Não é talvez este o momento em que Maria reassume  de maneira extraordinária  todos os “sins” que vinha pronunciando desde a Anunciação? Dos sim ditos explicitamente; dos sim ditos sussurrando; dos sim escondidos na contemplação e na meditação de tantos eventos racionalmente não compreensíveis… no entanto Maria diante de todas estas coisas nunca colocou resistência. Procurou sempre a vontade de Deus!
Estar aos pés da cruz para Maria tornou-se somente um aperfeiçoamento de um itinerário, de um caminho, de um discípulado. Tornou-se um ir re-escrevendo a história com os olhos de Deus; história de uma mulher que soube estar constantemente à procura… fez constantemente memória das promessas de Deus, ensinando-nos a não deixarmo-nos abater mesmo diante dos tempos difíceis; mesmo quando o sofrimento é agudo; mesmo quando seria mais fácil abandonar-nos ao desconforto, ao abatimento, à desolação, ao falhanço…
É exactamente nestes momentos que a fé que Maria viveu, e hoje nos é re-proposta, é a fé daquela que sabe que “Deus é maior que o nosso coração”. 
Desta maneira Maria nos apresenta o seu ser nova criatura. Somente quem se deixa permear pela Palavra de Deus, pelo encontro com o Senhor Jesus; somente quem tem a coragem de abrir diante de si e dos irmãos estradas novas para encontrar Jesus, e portanto a salvação, tem também a coragem, a audácia, a força que vem do Espírito de permanecer parado, com dignidade, com responsabilidade, diante de cada evento inclusive o mais doloroso, para dizer que Jesus venceu a Morte… e as mortes de toda espécie. 
Estar face e face com Jesus, para Maria tornou-se um olhar e contemplar a impotência do homem… também Maria diante da cruz de Cristo era impotente. Mas é diante desta impotência que se manifesta a grandeza de Deus. 
O estar aos pés da cruz de Maria nos encoraja a não fugir e a repetir não com palavras mas com a vida as palavras do Apóstolo Paulo: “completo no meu corpo o que falta aos sofrimentos de Cristo”. Nos ensina a permanecermos aos pés das tantas cruzes, pequenas e grandes, que encontramos na nossa vida quotidiana. Somente assim evitaremos o risco de nos fecharmos no nosso egoísmo, na procura do nosso sucesso pessoal, mas nos abre ao mundo com olhos novos porque homens novos. 
Aos pés da cruz Maria foi confiada a João, o discípulo amado, e nele a toda humanidade, como um bem precioso, como um dom espiritual, como aquela que soube caminhar por vias difíceis mas belas do discipulado. É nossa obrigação acolhe-la para aprender dela como caminhar atrás de Jesus, como estar aos pés das infinitas cruzes ainda disseminadas nos nossos caminhos, como aprender a repetir aquele fiel SIM da vida que nos faz capazes de repetir “não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”. 

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Cruz é vida!



Hoje, 14 de Setembro, os cristãos de todo mundo celebram a Exaltação da Santa Cruz. Uma festa que remonta aos longínquos anos 335 quando foi celebrado pela primeira vez. É uma festa celebrada quase por toda a cristandade sendo, porém, muito mais solene nas Igrejas Ortodoxas.  

Parece, todavia, estranho comemorar a exaltação de um instrumento de dura tortura como a cruz. Sabemos que ela constituiu um aspecto escandaloso na vida de Jesus.
Os doze provavelmente esperavam alguma coisa de Jesus, mas não este fim assim trágico. Tinham deixado tudo por causa dele, fascinados pelas suas palavras, pelos seus milagres, a sua intimidade com Deus e… de repente, acaba pendurado na cruz como um malfeitor. Irreconhecível. Impotente. Tento imaginar seus pensamentos e as suas perguntas... Onde foi aquele mestre poderoso que liberta dos demónios e das doenças? 
Onde se escondeu o profeta que encanta multidões com suas palavras cheias de novidade e beleza? Onde está o homem maravilhoso  que soube penetrar os nossos corações e nos fez sentir-se amados e aceites como nunca ninguém tinha sido capaz de fazer? Onde estás Mestre? Onde está tudo o que prometeste? 
A festa que celebramos hoje, liberta-nos da tentação de construirmos um Deus à nossa imagem e semelhança, um Deus que responde às nossas necessidades e às nossas expectativas. 
O Crucificado primeiro salva-nos de uma falsa imagem de Deus. Não um Deus que quer ser servido e reverenciado, mas um Deus que serve e dá vida. Não um Deus que domina, mas o Deus que ama sem medida. Não é um Deus omnipotente na punição, mas um Deus omnipotente no amor, misericórdia e perdão. 
Exaltar a Cruz, portanto significa exaltar um rosto novo e inédito de um Deus que Cristo nos revela, ele que se apresenta como a transcrição histórica  da sua beleza e do seu amor. A cruz é o milagre definitivo de Cristo, é a eterna abertura do coração de Deus, a verdade de um dom de amor sem medida, sem peso, que não espera de ser devolvido. A cruz é vida!

sábado, 11 de setembro de 2010

Senhor, fazei de mim um instrumento da tua Paz!



Nove anos atrás, quando, num dia como este, acontecera o ataque por parte da Al Qaeda às Torres gémeas e ao Pentagono nos Estados Unidos da América eu participava a um acampamento vocacional na ilha Brava e preparava para ingressar no aspirantado capuchinho em São Vicente, o que viria a acontecer no dia 16 de Setembro. 
Quando o frei que nos acompanhava no acampamento deu-nos a notícia do atentado confesso que não intuí a dramaticidade do evento e, como viria a condicionar a história nos anos que se seguiram. Não intuí na altura a seriedade da questão porque nem sequer sabia quem era Bin Laden ou Al Qaeda. Não podia imaginar que alguém fosse capaz de morrer para matar tantos inocentes de uma só vez. Não entrava na minha lógica de jovem e de cristão. 
Mas acabei por perceber quanta dor e, porque não, quanto rancor, nasce no peito de quem perdeu pai, mãe, irmão ou irmã , namorado o mesmo um amigo. Sim porque o ódio gera ódio ainda mais feroz. 
Nove anos depois, após entender muito bem que o mundo é dramático e muitas vezes injusto, esta manhã, ainda preocupado, sem saber qual teria sido a decisão final do Rev. Terry Jones, que enfurecido com a ideia de construir uma grande mesquita nas imediações da zona do terrível ataque, pensou e ameaçou queimar cópias do alcorão, rezei a oração da paz. "Senhor, fazei de mim um instrumento da tua paz!" Esta belíssima oração atribuída a Francisco de Assis é um compromisso a que os cristãos não deviam subtrair-se. A paz é possível apenas se nos comprometemos seriamente a sermos protagonistas de uma nova era. O ponto de partida, certamente, é o nosso próprio coração que precisa se converter à lógica de Jesus. 
Nós que ainda ousamos esperar que a paz e sã convivência entre os povos e religiões são possíveis não poupemos esforços na sua busca. Mas, sobretudo não poupemos preces a Jesus Cristo que do alto da sua Cruz nos ensina a lógica do amor que é a lógica do grão de trigo e morre para não ficar sozinho.
Vos deixo uma paráfrase da oração da paz feita por Frei Lopes Morgado, capuchinho português:
Senhor, eu quero ser um instrumento da vossa paz que o mundo não conhece.
Por obras, por palavra e pensamento, seja paz no meu canto e minha prece.
Se o ódio for minando a comunhão à sombra da bandeira do terror erguendo baluartes e fontreiras, que eu saiba difundir o teu amor.
Se a ferida em carne viva reacender a ofensa, na lareira da memória, que eu leve o teu perdão aos inimigos da cruz, como proposta de vitória. 
Se o verme da discórdia corroer a paz entre famílias e nações, 
que eu faça, no respeito das diferenças, de novo a união dos corações. 
Se a dúvida toldar o azul do espírito, qual nuvem traiçoeira de verão, que a minha consiga dissipá-la e o sol brilhe de novo em meu irmão.
Se o erro, com ardis bem simulados, levar a inteligência de vencida , que eu mostre, sem temor, a tua verdade por essa inteligência apetecida.
Se as vagas do mais negro desespero se erguerem numa vida amargurada, que eu possa dominá-las com a esperança qual nau pelo farol reconquistada.
Se as trevas do pecado, a dor e a guerra negarem o sinal da tua cruz, que eu grite, bem ao cimo dos escombros, a vida que a tua morte deu à luz.
Ó Mestre, se eu pedir que me consoles, ensina-me, primeiro, a consolar, se um dia te pedir que me compreendas, ensina-me, primeiro, a compreender, se acaso for pedir-te que me ames, concede que eu, primeiro, saiba amar.
Liberto de mim mesmo, reconheça: que dando-me que eu estou a receber, que sendo compassivo e perdoando é que eu também por ti sou perdoado; e só perdendo, enfim, a minha vida, é que eu eternamente a vou ganhar. 

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Um Deus que faz festa!




A parábola do filho pródigo é a mais conhecida das três “parábolas da misericórdia”. Mas as duas primeiras dão-nos também uma grande luz. Recordemos que as ovelhas tinham grande importância para o pastor. Não se pode aceitar que ele perdesse uma. Quanto à dracma, era uma soma importante. Basta pensar que uma família inteira podia viver um dia com duas dracmas. Compreende-se que a mulher que a perdeu tudo faça para a encontrar. Jesus precisa: o pastor procura a sua ovelha perdida “até a encontrar”; a mulher procura a dracma perdida “até a encontrar”. Através destas duas personagens, é o Pai que Jesus nos quer mostrar. Eis como o nosso Pai age: diante dos homens que se afastam d’Ele, que vão por caminhos de perdição, Ele parte à sua procura, mas nunca pára esta procura. Quando há um naufrágio, efectuam-se procuras para encontrar as vítimas. Mas, ao fim de um certo tempo, acabem-se estas procuras: já não há mais esperança! Mas não para Deus. Ele vai até ao fim, Ele encontrará de qualquer modo a sua criatura perdida. Mas onde? É na morte, consequência última da recusa do amor, que cai o homem. É na morte que Jesus irá para encontrar a humanidade perdida. E aí, no fundo das nossas trevas, que faz o pastor? Enche-se de cólera, bate na sua ovelha infiel, obriga-a a subir todo o caminho pelos seus próprios meios? Não! Nada disso! Quando a encontra, leva-a aos ombros. Jesus pega o homem aos ombros, poupa-lhe a dificuldade da subida para a luz. Como dizer mais explicitamente a gratuidade da salvação que Ele nos vem trazer? É a mesma luz do Pai que acolhe o seu filho sem nada lhe pedir, que lhe dá gratuitamente a sua dignidade de homem livre o seu lugar de filho, como se nada se tivesse passado. Como não transbordar de alegria diante de um tal Deus? (www.dehonianos.org)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

No meio do Povo!

Um bispo de uma diocese ao redor de Roma mandou construir uma grande igreja paroquial com todos os serviços próprios de uma paróquia no interior de um grande centro comercial onde trabalham cerca de mil pessoas e circulam cerca de 10 mil visitantes por dia sendo que este numero quase se duplica aos fins de semana. Esta decisão no mínimo ousada e inédita do bispo, naturalmente não é consensual. Muitos defendem que os centros comerciais são a negação da cidade e como, ao menos em Itália, o edifício eclesial está quase sempre ao centro da cidade e é motivo de agregação das pessoas, construí-la num centro comercial é ceder aos poderes económicos e capitalistas. Outros defendem a velha lógica de que “se Maomé não vai à montanha é a montanha que vem ao Maomé.” Neste caso, dizem, se as famílias trabalham toda a semana e o único dia que têm livre para as compras e para o lazer é o Domingo, ter uma igreja onde vão as famílias de Domingo é responder a uma necessidade séria.
Eu, ouvindo todo este debate numa estação emissora, levei o argumento à fraternidade numa das nossas refeições e também ali não houve consenso. “Agora quando chega o natal o padre não pode pregar contra a paganização do natal visto que se instalou próprio junto dos promotores desta paganização”, diz-me contrariado um meu confrade com uma certa idade. Um outro frade, um bocadinho mais jovem, fez notar que se Jesus viesse a esta igreja chicoteava abundantemente o bispo e o pároco porque construíram a sua casa que devia ser casa de oração no meio do comércio.
Certo, todos têm razão. Mas eu achei a coisa muito interessante e até certo ponto profético. Fosse eu o tal bispo talvez não construiria uma autentica igreja paroquia mas uma grande capela que oferece a possibilidade de as pessoas exercitarem com dignidade a sua fé.
O termo paroquia, como sabemos, deriva do grego παρоικια e significa literalmente agregado de casa, vizinhança. Podemos dizer que é (e quer ser) a casa de Deus no meio das casas dos homens.
A paróquia foi sempre considerada, justamente porque de Deus, a casa de todas as pessoas, mas se no passado recente, a preocupação principal era saber como ajudar as pessoas na prática sacramental, hoje a paróquia, principalmente na Europa, tem que perguntar como anunciar o Evangelho a todos os homens. Para fazer isso, a Igreja que vive entre as casas deve ser capaz de entrar em comunicação com aqueles que explicitamente não acreditam, com aqueles que querem ser consideradas cristãos, mas que vivem fora da comunidade e com aqueles que se dizem crentes mas não praticantes, e, portanto, nunca entraram em comunicação com a comunidade e, ainda a Igreja deve entrar em comunicação com muitos dos baptizados, que nunca se tornaram crentes…
Se uma paróquia quer ser missionaria, portanto, deve ir sem complexos ao encontro das pessoas onde eles se encontram para anunciar-lhes que Jesus Cristo, morto e ressuscitado é o Senhor.
Para mim a iniciativa do bispo não é para "demonizar"e talvez o futuro lhe dará razão. 

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Calcular e Reflectir!



Podemos ainda comentar esta página do Evangelho? Jesus, decididamente, é demasiado duro, as suas exigências demasiado radicais: “Se alguém vem ter comigo, sem Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo... Quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo». Sem contar com este convite ao sofrimento: “Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo”. Parece que Jesus quer desencorajar quem quer ser seu discípulo. Como compreender? Primeiro, é preciso compreender que Lucas escreve o seu Evangelho num contexto de perseguições. Alguns cristãos preferiam morrer a renegar a sua fé. Outros, talvez os mais numerosos, escolhiam colocar, pelo menos momentaneamente, a sua fé entre parêntesis para salvar os seus bens, a sua família e a sua própria vida. São Lucas quis, não tanto condenar estas fraquezas na fé, mas sobretudo dar um forte encorajamento àqueles que se mantinham firmes na fé, até à morte. Eram esses, os mártires, que tinham razão em seguir Jesus até no mistério da sua morte na cruz. O
que nos podem estas palavras dizer hoje? O nosso mundo é duro em tantos domínios. Por exemplo, talvez não se possa dizer que o sentido do casamento e da família, o valor da palavra dada para ser fiel ao seu marido, à sua esposa, sejam referências maiores da nossa cultura. Querer, neste mundo, ter em conta estes valores não somente “espirituais”, mas propriamente cristãos, fazer referência ao Evangelho, afirmar-se como crente em Jesus, numa sociedade “descristianizada”, não é evidente hoje. A maior parte tomou as suas distâncias em relação a Deus, à fé cristã. Então, a palavra de hoje é-nos dada para nos despertar e, ao mesmo tempo, para nos encorajar. Aqueles que, apesar de tudo e contra tudo, continuam a dar um lugar importante na sua vida a Jesus, têm razão. O Evangelho de hoje é um convite urgente a mantermo-nos na nossa fé, por mais que isso custe! (www.dehonianos.org)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

À tua palavra lançarei as redes!

O que será que pensou Pedro, à beira do lago, quando a voz daquele Mestre desconhecido o convidava a fazer-se ao largo para recomeçar a pescar? Como podia ser possível tudo isto, depois de uma inteira jornada de trabalho terminada mal? Talvez o tenha considerado um tolo, ou talvez, um ingénuo. O Evangelho de hoje nada diz, e ainda bem! Porque o que realmente conta é que Pedro confiou de imediato, não ficou na sua comodidade de quem olha de longe, de quem espera compreender tudo com antecedência, antes de decidir, de quem não risca, de quem não toma decisões com medo de comprometer-se. Não! Pedro corresponde ao convite, não certo porque compreendeu tudo, nem porque se sentia invencível, mas apenas e exclusivamente porque aquela Palavra não era como as outras e, mais do que todas as outras, tinha tocado as cordas do seu desejo, entristecido daquele trabalho quotidiano concluído com desilusão. Aquela voz tinha (re)despertado no coração do pescador a expectativa de uma pesca maior, de uma viagem através a qual pode curar-se de uma existência que se tornou improvisamente vazia e priva de sentido.
Quanto deverá viajar Pedro desde aquele dia atrás do seu Mestre para tornar-se realmente um discípulo! Quantas vezes deverá experimentar os próprios limites e juntamente o olhar pungente do seu Senhor que todas as voltas o salvará das tempestades, fixa-o nos olhos e lhe perdoará pelos seus pequenos ou  grandes traições! Mas no entanto tudo começou com aquele inicial confiança, que permite a aventura estupenda e sempre nova que é ser discípulo de Jesus, até partilhar a morte e a Ressurreição. Como aconteceu aquele dia no lago, assim acontece com todas as vocações, porque assim se entra na vida. Se tu te defendes e ficas à janela ficarás sozinho, na praia e com as tuas redes vazias; se correspondes com todo o teu ser àquela Palavra, estás já em viagem, fizeste já ao largo e então deixaste um espaço para que um Outro possa cruzar contigo uma história de liberdade e de amor.
A Igreja é um lugar e um tempo onde se aprende e se exercita este segredo, descobrindo que próprio sobre aquela Palavra – e sobre nenhuma outra- é possível jogar inteiramente a própria vida no serviço transparente e apaixonado à feliz notícia de Jesus Ressuscitado na minoridade, na fraternidade na paz e no bem! 


Frei Gilson Frede  

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