sexta-feira, 2 de abril de 2010

TENHO SEDE!



Tenho sede! Aqui, do alto desta cruz, um triste púlpito que lança sombra sobre o significado da minha existência, um unico grito sai desta minha carne humilhada, açoitada, arada pelas garras de uma paixão, de um amor não correspondido ou, talvez, simplesmente não entendido. E de um horizonte marcado pela drama dramática do morrer, duma vida que só tem o sabor de lágrimas, que se nutre de um pão empastado com o fermento de amargura, como por um instinto, aquela promessa que diz a beleza da existência e o valor de uma vida escolhida e vivida, faz amadurecer e nascer um grito: tenho sede! Talvez a última tentativa de uma vida que agora encontra-se impotente para travar uma batalha que já se sabe o resultado, em memória dolorosa desta experiência, contra os suspiros do fracasso, da solidão, do abandono, contra aquela voz , mais forte do que qualquer outra tentação, que continua a dizer que talvez nada, e até a propria vida, faz sentido: Tenho sede! Uma sede, que constrói a ponte sobre o fosso que está enraizado no mundo e no coração dos homens quando a morte encontra a vida e a decreta o fim; uma sede que, talvez, duma maneira inconsciente e além de qualquer razão plausível, anuncia que esta vida é habitada por um sentido que não apaga o primeiro, a minha existencia e os desejos que a acompanharam, mas que aqui, sobre esta dura madeira, sobre esta cruz, empurra-a para uma forma plena.

E esta sede, a sede por Aquele que é perfurado por nós, aquele que nos cura com as suas chagas, o Crucificado, neste seu grito (porque agora as palavras já não são sussurradas, mas gritadas), e na sua história trágica que, mesmo através da morte, anuncia o sentido da vida, dando-a uma forma plena, traz à luz, esclarece e justifica aquelas sedes profundas que orientam o nosso caminho; sede que conserva a profunda autenticidade, espessura, profundidade, mesmo quando ostenta os sinais evidentes do fracasso, da rejeição, da crise que a própria vida, que muitas vezes nos atrai e muitas outras vezes nos assusta, nos coloca no tapete do nosso caminho e no intimo da nossa sofrida respiração.

Tenho sede! Uma necessidade que profundamente abraça a identidade do homem que grita para a vida. Tenho sede! Um grito que diz a dignidade de uma promessa.
Tenho sede! A dependência che diz que a realização do existir.

Tenho sede!
Talvez como o grão de trigo que, germinando na terra árida e nas estepes de desilusões, rasga a crosta para renovar a sua existência, na tentativa e no desejo de ser acolhido na vida através o caloroso abraço de uma estrela.

Tenho sede!

2 comentários:

  1. Olá Frei Frede... paz e bem!! Uma Feliz e Santa Páscoa. Sou da JUFRA de SP e OFS das CHAGAS. Abraço. Cida

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  2. acesse tb nosso blog.. www.ofsjufradaschagas.blogspot.com

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